sábado, janeiro 30, 2010

Sistema Único de Doenças

SISTEMA ÚNICO DE DOENÇAS

O presidente Lula passou mal em Recife. O mal estar iniciou com dor de garganta, quando inaugurava um hospital público na região metropolitana.

Ainda fez piada, dizendo que talvez fosse o primeiro paciente do hospital. Mas como a demagogia dele não chega a tanto, com a evolução do mal estar, ele foi levado para o hospital da beneficência portuguesa, cuja filantropia é semelhante ao presidente.

Lá, fez todos os exames, inclusive tomografia de tórax, que eu não sabia que se fazia para avaliar nem garganta e nem pressão.E teve alta hoje, com diagnóstico de crise hipertensiva. E a dor de garganta, deve ter sido uma manifestação presidencial da popular pressão alta.

Resta-nos saber como seria a abordagem de Luis Inácio num hospital público. A princípio, esperaria algumas muitas horas na porta do hospital. Uma vez entrando, aguardaria o médico consegui examiná-lo, rapidamente. Obvio que a garganta também não seria avaliada.

Dependendo do hospital, teria que esperar chegar um clínico. Se ele estivesse no hospital Otavio de Freitas, por exemplo, não tem clínico há 1 mês e meio. Nenhum.

Quando vissem a pressão dele, que comparando com a população desassistida até pelo PSF, não estava nem tão alta, era “só” 180x100mmHg, ele iria ter alta para pegar uma ficha, em algum dos tantos postos de (des)atendimento do governo, para fazer a investigação ambulatorial, na velocidade de um exame a cada dois meses, caso tivesse sorte – coisa que a gente sabe que ele tem.

Que pena que ele não passou por isso... talvez ele lembrasse como é ser cidadão num país onde, como já disseram, a diferença da direita para a esquerda é que a direita condena e a esquerda defende o aborto.

Aborto este que, mesmo com a liberação judicial, como no caso do estupro, ainda demora tanto tempo pra fazer que pode até a criança já nascer viva com 7 meses, pré-matura, e ficar seqüelada por não ter acesso ao atendimento devido.

Enfim: este é o nosso sistema de doenças.

O EVANGELHO DE SÃO PIRANGA

para quem não sabe o que significa pirangueiro, é a pessoa que tem uma visão conservadora das equações monetárias. Vulgarmente conhecido como pão duro, mão de vaca e outros adjetivos que as pessoas usam para inibir os seres pessoas auto-controlados e expô-las ao ridículo, tentando jogar os seus nomes na lama.


O evangelho de São Piranga

Como todo mundo sabe, o entendimento de santos da igreja católica era muito mais de "orelhadas" dos comentários de minha amiga Vivian, do que de qualquer outra fonte.

Ainda não entendi o que aconteceu... se foi a proximidade da vinda do papa, as festas juninas e seus 3 santos veementemente glorificados pelo povo nordestino, ou se foi o perigo claro e iminente dos gastos desenfreados de montar uma casa pela segunda vez em 3 anos...

O fato é que tive uma visão ontem.

Tudo começou quando eu conversava, com minha amiga Bárbara, gratuitamente pelo skype. De repente me apareceu uma visão evanescente e esfumaçante com poucos efeitos celestiais. Não era Hermengarda. Quem seria então...?

A figura se identificou como São Piranga. Disse que eu seria a ungida. Tomei um susto tão grande... ele explicou que eu não me preocupasse que não teria gravidez – como Maria. Até mesmo porque filhos é uma despesa colossal e incessante.

Como eu ia dizendo, eu seria a ungida para guiar a humanidade contra este apelo ininterrupto do demônio do consumo e das taxas e impostos a pagar. Falou da necessidade ecológica de economizar água e luz e da necessidade biológica de combater a preguiça e o sedentarismo – ambos irmãos siameses.

E escreveu seu evangelho, que dizia assim:

1 – Não deveis usar os recursos da natureza em prol da preguiça, do desmatamento e da violência. Isso tudo é pecado. Deus criou a natureza para produzir e não para se acabar;

2 – Sempre que podeis, deveis ir caminhando. Deus criou as pessoas com pernas funcionantes (pelo menos a maioria delas) para serem usadas... e não para ficarem se tornando dependentes de automóveis poluentes. Os que não tem pernas funcionantes também não devem ser sedentários;

3 – Não deveis deixar os eletro-domésticos em stand-by se você pode desligar e contribuir com o racionamento de energia. Além de tudo os leds dão insônia;

4 – Não deveis usar ar condicionado indiscriminadamente. Os grandes homens da história dormiam ao ar livre... o ar condicionado faz parte do ciclo vicioso causa-conseqüência do efeito estufa e todas as mazelas dos pecados da sociedade moderna e excludente! Ressecam a pele e os olhos, acumulam poeiras e ácaros, propiciam desenvolvimento de processos alérgicos e ainda impermeabilizam você do meio ambiente, criando personalidades alienadas com pouca participação social;

5 – não deveis falar por celular ou telefone o que pode ser falado pessoalmente. É necessário que os seres humanos interajam de forma mais próxima. Esta questão da globalização transformando as pessoas em números é totalmente demoníaca.

Música é coisa muito séria

Eu nasci numa casa que todo mundo gostava de música, e cantava, desafinado ou não. A música faz parte de mim, e com a intimidade de quem sente música de dentro pra fora, dentro dos meus conceitos, nem todo barulho eu classifico como música.

Ultimamente, tem sido muito difícil achar música boa. Mas elas existem. E o melhor é que, as que já existem, não morrem. Assim, elas têm um papel marcante na história dos países, das revoluções, dos carnavais, enfim, das pessoas.

É um passaporte capaz de levar a outros mundos, imaginar outras realidades, trazer sensações, emoções, pessoas. A música tem uma magia, que muitas vezes, dispensa as palavras. As músicas clássicas, por exemplo, concebidas em outras realidades, outros contextos, outros tempos, com outros valores sociais, e você escuta e ela se decodifica em sentimentos.

Fica quase palpável o deslumbramento de “clair de lune”, a magia da primavera de Vivaldi, o desconsolo de Beethoven. E como eu pertenço a Pernambuco, diria que fica-me sólido o carnaval varrendo das ruas de vassourinhas.

A letra nem sempre diz tudo. Às vezes não diz nada. Às vezes, são frases inteiras, e às vezes, meias palavras. Arnaldo Antunes diz tudo desconstruindo as palavras.

A incoerência é emblemática em algumas músicas, como a agricultura celeste(1) de Jorge Benjor e a gravidez de um avião de Marina Lima(2). É bem verdade que a incoerência não é novidade.

Lembro muito do meu avô cantando uma valsa onde o compositor era apaixonado por uma boneca de louça(3) e uma varanda bem conhecida, chamada “sertaneja”, onde o cidadão pedia asas a Deus.

Há também a coerência contextualizada, como o plâncton(5) ou o sindico Tim Maia(6). E a coerência decodificada, com os temas bíblicos de Zé Ramalho(4), e “flores” do Titãs. Vai num show e olha a empolgação da galera cantando as flores no travesseiro, no telhado, no corpo inteiro, totalmente alheias à descrição do velório!

Muito além, tem a arte de dizer sem falar nada, como as músicas da época da censura. Dedico minhas especiais reverências à imensa obra de Chico e ao Pavão Misterioso de Ednardo.

Ainda no quesito letras, não podemos esquecer o romantismo devotado ao destempero de Pixinguinha, como em “Rosa”, “carinhoso” e o “sensorialismo” de Cartola(7), percebendo a presença da amada na lembrança roubada do perfume silencioso das rosas e na aurora do sol.

Seria impossível falar de letras sem citar a lucidez do “maluco beleza”. Cantando, denunciou a vida, mecânica e conformada, alheia aos sentimentos e aos desejos inerentes da condição humana.

Na sua irreverência, Raul vai de Deus ao diabo, passando por Freud e Judas(8). Através da “alforria química”, tentou fugia, ainda que momentaneamente, da realidade torpe, que enxergava com uma lucidez incompatível com a vida.

Era a definição de vanguarda.

Vamos ao quesito voz, agora. Na música, uma boa voz não é tudo, mas faz diferença. Tem algumas vozes que são verdadeiramente fantásticas, e ficaram tatuadas na minha mente.

Eu sempre soube que a voz de Milton e Mercedes Sosa são a voz da liberdade. A voz de Elis era a voz do sentimento. A voz de Nana (Caymmi) é a saudade, assim como a de Dorival era a voz da preguiça.

Arnaldo Antunes é a voz do inconsciente e Chico Science tinha a voz do estilo, da inovação, da identidade. De qualquer forma, inquestionavelmente, a voz de Zé Ramalho vai narrar o apocalipse.

Mas independente dos recursos vocais, a melhor interpretação é quando quem canta é a alma. Mas às vezes, a alma se transforma em voz, como é o caso de Lirinha(9), assim, o corpo todo canta. E a gente chega a ver a realidade da música se construindo no palco.

E a capacidade da música de trazer em si uma realidade é tão forte que tem música ruim que, depois de muito tempo, a gente gosta de escutar por causa das lembranças.
A gente pode querer e gostar, mas nem todo mundo consegue construir a essência de uma música.

Música, de verdade mesmo, é coisa muito séria. É um mistério fazer a melodia, encaixar uma letra na harmonia, ter ritmo, imprimir uma mensagem, construir uma letra, e depois, incorporar nela uma alma.

Pena que hoje em dia, o que mais tem é música desalmada...

1 eu vou torcer – Jorge Benjor
2 grávida – Marina Lima e Arnaldo Antunes
3 – “enfim eu vi nesta boneca uma perfeita Venus” – versos de José de Alencar, musicados
4 – eternas ondas, a terceira lâmina, canção agalopada
5 – spirogyra story
6 W/Brasil (chama o síndico)
7 – alvorada, as rosas não falam
8 – carimbador maluco, dia da saudade, ilha da fantasia, alcapone, aluga-se, canceriano sem lar, canto para minha morte, meu amigo Pedro, quando você crescer, coisas do coração, como vovó já me dizia, DDI,, cowboy fora da lei, é fim de mês, Judas, você, sim, tente outra vez, o homem, por quem os sinos dobram, movido a álcool, S.O.S., paranóia I e II, rock do diabo – é difícil escolher pouco dele...
9 –vocalista de cordel do fogo encantado

BOM DIA BRASIL
comentado por Herme e recomentando por Taiza

O povo do Haiti gosta mais do exercito brasileiro do que nós. Inclusive os soldados, além de tudo, ensinaram as crianças a falar português. E a bandeira do Brasil é balançada pela população, mesmo sem ser épocas de copa. Resta-nos saber o que eles fazem lá que não fazem aqui.É aquela velha história, "em terra de cego, quem tem um olho..."

O presidente Lula e Dilma estão em campanha declarada, usando as obras do governo para discurso. Mas agora a oposição resolveu reclamar. Mas claro que eles tem direito de reclamar.... Lula fica roubando as ideias deles, cara!


Enquanto isso, continuam as investigações quanto ao caso de Arruda, porque ainda não sabem se ele roubou mesmo. Se brincar, é mais fácil ele ser condenado pelo terremoto no Haiti! Ou então pela morte de Michael Jackson...

No Brasil, pela primeira vez um homem vai ser preso por matar a mulher, que insistia em ser ex, em frente as cameras. É que ele era muito apegado à própria casa, conforme o próprio relato. A culpa é desses movimentos feministas, tá vendo? Como disse um aluno meu, essa Lei Maria da Penha é muito errada, porque agora uma mulher não pode mais nem levar um tabefe... já quer ir pra delegacia! (detalhe: ele falou isso em tom sério e solene!!)

As chuvas continuam em São Paulo, acredita-se que São Pedro está querendo transformar a cidade com o nome do amigo numa nova Atlântida. E o povo morrendo mais de pobreza que de chuva! Não são comuns relatos de casas ruindo em áreas 'nobres'.


Em toda a história do Haiti, a população sofreu todos os tipos de desgraças, naturais, sociais, econômicas e biológicas. E o cônsul já descobriu que é por causa da macumba** E por que ninguém fez uma macumba pra esse homem ainda, me diz??!!


No Rio Grande do Sul, em Novo Hamburgo, as famílias de desabrigados, em forma de protesto, foram morar em canos de tubulação. E os urbanistas do governo sugeriram esta nova forma econômica de construção. Vão urbanizar as favelas do Brasil inteiro, colocando a população pra morar, oficialmente, em canos de esgoto. Afinal não basta ser tratado como merda, é preciso ser a própria!!



Maradona elogiou o futebol brasileiro e disse que a Argentina não está entre os preferidos.E como um comentário de Maradona é algo que sempre tem o poder de mudar minha concepção de vida, tempo e espaço, prefiro não comentar!

* ”não vou mais trabalhar, vou levar uma vida de vagabundo. Mas não vou perder esta casa. Se eu perder esta casa, eu vou matar você” – isso é que é apego à própria casa!

** “em todo canto que tem africano, tem desgraça” – e nos outros lugares não...

***As notícias boas todas de hoje foram só do futebol, que dependendo de quem escutar, é o caos! Eu por exemplo, detesto o Corinthians e Ronaldo pior ainda.

OS RISCOS DA FELICIDADE

Outro dia, chegou-me um paciente com dor. Mas a dor era tanta que toda a família se reorganizou em torno dela. Cada um foi, solidariamente, adoecendo junto. Em seis meses, tava todo mundo doente.

O objetivo do tratamento dele era um só. Era tão desejado que era um sonho. E nem bem a proposta terapêutica foi feita, ele piorou absurdamente, mas tanto, que desistiu de se tratar.

Então chegou mais outro paciente, mais outro e depois outro. E ao fim do dia de trabalho, eu constatei: o ser humano suporta muita coisa ruim. As tragédias lotam os consultórios, igrejas e bares. Todos os tipos de desgraças.

São acidentes, abusos, doenças, abandono, desavenças, ingratidões, traições, falências, fracassos, derrotas, instabilidades, miséria, fome, privação de sono, dor e mais dor. Alguns chegam a ter um corolário delas.

Inegavelmente, a tristeza vende mais que a alegria. Vende mais música, filme, poesia, livro e bebida. Vende mais remédio, roupa, sapato e viagem. Vende mais seguro de saúde, de vida, de valores e de bens. Vende mais cigarros e drogas, incluindo as novelas.

No mundo, se somam as almas adoecidas pelo percurso da vida, quase sempre insalubre. Todo mundo é abatido de alguma forma.

Cumprimentaram o homem mais bem sucedido do convívio: “como vai?”. Aquela pergunta que nem obriga resposta. Mas ele respondeu, glorioso: “tenho mais que agradecer do que de me queixar”.

Pelo orgulho e imponência da resposta, deduzi que isso era um sinônimo de “estou bem”. Porque, provavelmente, ele percebeu que ser feliz chega a ser passivo de críticas.

Mas apesar das críticas. todo mundo almeja ser feliz. Um dia, claro. É o sonho coletivo. Sempre se está esperando algo pra ser feliz. Até que seja tarde demais para isso.

Alguns que você não sabe o que esperam para ser feliz, mas apostam na tristeza dos outros. A moça me disse que escolheu trabalhar no meio daquela miséria para saber que é feliz.

E eu que achava que felicidade era de sentir e não de saber...

Lá pelas tantas, escutei um relato curioso. Alguém perguntou a uma mulher como ela fazia para ter um casamento tão feliz. Ela respondeu, na maior, que de vez em quando tinha uns ataques e reclamava dele em tudo, pra ele não se acostumar com a felicidade.

Assim iam 10 anos de felicidade cotidiana patrocinada pelas tristezas dissimuladas... ou sei lá eu, o que era dissimulação.

Tem felicidade sai da boca, mas não entra no coração. Ainda mais hoje em dia, que ser feliz é pelo menos, ser suspeito de falsidade ideológica.

E se brincar, paga multa, aumenta imposto, alguma taxa destas... se quer ostentar a felicidade, que pague por ela! Porque a felicidade, muitas vezes, é insuportável.

Mas, a gente vai viver tentando!

REPÚBLICA DOS CÃES E O LOBISOMEM

Nos últimos 15 dias, recebi queixas sobre “tristezas imprecisas”, “insatisfações imotivadas” e “angustias indefinidas” de várias pessoas diferentes e de localizações geográficas distintas.

Uma delas, muito lucidamente, comenta, dolorida, que a vida segue a mesma, sem alterações significativas. No entanto, há semanas de satisfação plena e alegria inusitada e outras, de desconsolo profundo.

Como diria o poeta, “o que dá pra rir, dá pra chorar”.

No fim das contas, hoje, quase todo mundo é bipolar ou tem TPM. São os dois “slogans” mais comuns do mundo moderno para justificar este movimento psíquico oscilante típico do ser humano.

Esta oscilação é tão conhecida que não leva o insatisfeito a fazer proposta de mudança alguma ou solução, nem para si nem para ninguém. E quando o faz, logo em seguida, arrepender-se-á, assim que os sentimentos retornarem ao nível da acomodação.

Uns admitem motivos internos – sem que efetivem mudanças. Já outros, atribuem causas externas, causas estas que são constantes. E quando esta causa é uma pessoa, ela geralmente também é inseparável.

Disse-me um dia um amigo triste que desde que aprendeu a achar culpa nos outros, nunca mais teve culpa de nada. Nem culpa e nem solução, diga-se de passagem.

E quando chega o fim do ano cristão, todos se crucificam e se martirizam pensando nas propostas não atingidas, preteridas ou alcançadas e ainda assim, insatisfeitas.

É um marco de insatisfação sazonal, vamos dizer assim.

Os solteiros, reclamam de não ter parceiros. E os casados, reclamam de tê-los. E todo mundo reclama de sexo.

Quem não tem filho, reclama da falta de perspectivas familiares. Quem tem, reclama do trabalho, das preocupações, das limitações e das despesas. Mas todo mundo reclama das crianças.

Quem está desempregado reclama do ócio. Quem tem emprego público, reclama da monotonia. Quem tem emprego privado, reclama da instabilidade. E todo mundo reclama da falta de dinheiro.

Quem não tem família, reclama da falta de respaldo. Quem tem, reclama dos parentes. Mas todo mundo reclama de alguém.

Eu, aqui, escutando as queixas, me lembrei dos amigos peludos de infância. Como é autêntica a felicidade do cão! E a do vira-latas então! Quem dera algum antidepressivo tivesse o poder de dar um espírito de vira-latas...

Nos dias frios, se esquentam deitados ao sol. No calor, cavam um buraco para se refrescar na terra úmida. A água, suja ou limpa, é deliciosa. Cada uma tem seu sabor.

E comer é outra satisfação: ofertado, caçado ou roubado. Cada um com seu sabor de alegrias diferentes. Sai lá a farejar o chão. Não vejo nada no chão. Nem ele, mas mesmo assim, fareja. Se encontrar alguma coisa, é uma alegria. E se for de comer então, melhor ainda!

E sair na rua com o vento na cara! Nossa... a rua, por si só, já é muito interessante. Porque na realidade, tudo beira a novidade. E toda novidade interessa...

Chega um humano! Se for o seu, é festa! Se for desconhecido: vamos ver! Se for inóspito, vai exercitar gloriosamente sua função de cão de guarda. Ainda que haja muitas desproporções entre o guardião pequinês e o invasor da estiva.

Feio ou bonito, todo cachorro é feliz! Geralmente os pobres são mais felizes, porque não tem donos neuróticos humanizando sua natureza canina!

Eu, com minha humanidade agravada pela adolescência, me sentava pra olhar a tarde-a-tarde dos meus amigos super-felizes, brincando com qualquer coisa. E ficava pensando como seria o mundo governado pelos cães.

Eu sempre tive muitas idéias assim.

E, injustiças a parte, fatalmente seria um povo mais satisfeito. Então, a única conclusão que eu posso chegar neste fim de ano é que a melhor proposta pra mim é realmente namorar um lobisomem!

meu feriado

Hoje é feriado em alguns estados do Brasil, em virtude do dia da consciência negra. Por que a consciência negra saltita entre os estados de um mesmo país?

O feriado é uma referência ao assassinato de Zumbi, em 20 de novembro de 1695, numa emboscada na serra de Dois Irmãos, após liderar por anos, uma comunidade de negros fugitivos em Palmares, no interior de Alagoas.

Babita, minha amiga carioca, diz que aqui tem menos negro que no Rio. Mas suspeito fortemente que tenha mais que em São Paulo, onde é tão feriado que tem engarrafamento desde ontem para o litoral.

E ainda na minha linha de suspeitas, creio que tenhamos mais negros que no Rio Grande do Sul também, onde, segundo o jornal, também tem feriado.

E aqui, em Pernambuco, mas conhecido com centro do universo, não tem feriado. Só tem a comemoração.

Não sei qual o grau de consciência dos negros levado em questão para definir o decreto ou não do feriado da consciência nacionalmente comemorada homenageando um guerreiro negro e nordestino.

Mas existe um critério.

O Brasil tem uns feriados para as populações que, ainda não sendo minorias, são esmagadas, apesar das homenagens, como os feriados, como as mulheres (08/05) e negros libertos (13/05). Agora tem para os negros guerreiros (20/10).

Depois do ultimo domingo, no Faustao, eu acrescendo nas categorias esmagadas, os médicos.

Cada dia tem mais e cada dia remunera-se menos. Sobrecarregados em piores hospitais e condições, agora somos xistes e, alemdo governo, o Faustão, resolveu ridicularizar a classe em cadeia nacional.

E ainda responsabilizados do caos que se instala graças as esferas superiores – e em esfera superior, suspeito que Deus nada tem a ver com isso.

E pior que a gente, o resto dos profissionais de saúde.

Então, espero, literalmente em Cristo, que eu, fazendo parte de várias destas categorias esmagadas, já que sou mulher, nordestina, médica e mestiça, e praticamente guerreira, como todo brasileiro, tenha um feriado para mim!

Dia 13/12 tá bom...

No entanto, ainda na linha das suspeitas, temo que concentrando os títulos de fisiatra e acupunturista, aos olhos do mundo, praticamente magia negra, vou terminar sendo convidada a queimar na fogueira no próximo são João.

Mas pelo sim, pelo não, podem rezar por mim e para mim, que tentarei atender a todos os pedidos o mais breve possível!

careca penado!

Alexandre Magalhães é muito querido pelos amigos apesar de ser um cara com hábitos estranhos. É inevitável falar, por exemplo, de quando ele falta os aniversários, ou volta da porta, mesmo quando é o seu. E de igual maneira, aos casamentos, para fazer faxina.

Ele tem um gato mais estranho do que ele, chamado Hitomi. É o único felino desengonçado da história do planeta Terra. Corre com as patas esticadas e morde toda a coletividade. Um belo dia, deitou-se no braço do sofá e pouco depois, despencou no chão como uma jaca. Totalmente contrário à natureza dos gatos.

Mas o careca também tem seus hábitos estranhos. De manhã, ele come granola com café – até ai tudo bem, se a granola não fosse completamente mergulhada no café. E toma café com leite o dia todo, numa tigela. E reclama que a cafeína tem lhe feito mal. Mas não quer tomar descafeinado para não tirar “aquela sensaçãozinha”.

Outro hábito estranho de Alexandre é lavar os travesseiros na máquina e pendurar para secar depois, como se fosse uma fronha gorda. E acha que isso é uma prática comum na humanidade.

Acontece que o careca está ficando chique. Agora tem uma casa arrumada, cheia de móveis, todos combinando, um sofá chiquérrimo. Agora até espelho tem! Quarto novo e arrumado, com guarda-roupa de seis portas e um travesseiro de pena de ganso.

Só Deus sabe qual é o critério de lavagem do travesseiro, mas o fato é que chegou a hora. Xandezinho vai botando pacientemente todos os travesseiros, um a um. Por último, o penoso. Mas quase num aviso prévio, ele estufou-se, e não quis caber.

Alex, com autoridade de proprietário, resolveu o problema de insubordinação. Pegou um garfo e fez um furinho para tirar o “excesso de ar”. O travesseiro murchou-se resignado e coube. Ao fim da lavagem, a revoada!

Abre a máquina e era pena de ganso pela casa inteira. Mas o excesso era em todo canto. Tirava-se com peneira as penas do caldo impossível de drenar lá dentro. E os restos mortais do travesseiro murcho.

Desde então, toda vez que se lava roupa, a máquina solta penas. E vestindo-se assim, tão penosamente, agora temos a nova versão do Alex: o careca penado!

Muro nosso de cada dia

Reza a lenda que, para se conhecer uma pessoa, basta lhe dar dinheiro ou poder, ou ambos. E assim, a história mostra grandes revolucionais idealistas convertidos em ditadores sanguinários.

E os que assim não o fizeram, ficaram à margem da fama e da história, ou foram “suicidados” pelos seus antigos colegas de causa. Tanto faz se é da direita ou da esquerda, basta ver Fidel e Guevara. Depende mesmo é do “calibre” de cada um, como diz o matuto.

Também varia a quantidade de poder capaz de deslumbrar uma pessoa, haja vista certos porteiros e recepcionistas. Mas em geral, o poder que dá fama é escrito com sangue nas páginas da historia.

E a política escreve história. É uma das formas mais inebriantes de poder. Como todo jogo, há quem ganhe rios de dinheiro e há quem perca tudo o que tem por causa da mesma política. Independentemente do partido.

A política é um poder condicional, conjuntural, estratégico e fulgaz, com um forte componente ilusionário. Mas ninguém acredita nisso quando embriagado pela sede do poder político.

A moeda é o que você está disposto a dar, do que você está disposto a abrir mão, do que você tem coragem de desdizer ou afirmar, por quem você está disposto a passar (em geral, por cima) e aonde você quer chegar.

Vale muita coisa neste “exercício do poder”, desde a dedicação à causa, à maledicência, à paralisação dos processos, à banalização dos projetos, à usurpação das idéias, ao boicote da auto-estima alheia.

Pode chegar até à eliminação da concorrência, que pode ser simbólica ou real – depende da esfera do poder almejado. Mas sempre é muito importante que o subjugado entenda exatamente qual o seu lugar e quem está mandando, ou pelo menos, pensa isso.

O cumprimento das leis, em geral, é enviesado.

Poucos vão se lembrar de vê, mas todos de escutar, do muro de Berlim, que dividiu a Alemanha em duas por muitos anos. De um lado, o capitalismo. Do outro, a ditadura comunista, que como toda ditadura, assassinou muitos sonhos e muitas realidades.

Aprisionados por muros e grades ideológicas, perseguido pelos pensamentos, o povo foi mantido num cárcere murado, à margem da tecnologia, da liberdade, e sobretudo, da informação. E no quesito informação, abrange desde as informações científicas, políticas até às notícias sobre os familiares e desaparecidos.

Acomodar-se é fácil. Lucrar indevidamente com as desigualdades é cada dia mais comum. Abster-se de tomar postura é compreensível. Negar a realidade é sempre possível. Mas o exercício deste poder mutilante é de outra ordem, de uma natureza hedionda.

Não sei o que leva uma pessoa a este ciclo. Mas para manter-se nele, é necessário uma certa dose de ódio. Suspeito eu que também de inveja, auto-estima baixa que exija tanto para a auto-afirmação, reconhecimento do público, ainda que torturado, mutilado e amordaçado.

Hoje celebramos a queda do muro de Berlim, tão distante da nossa realidade. É realmente surreal imaginar a metade de um país cercada por um muro com a metade do povo prisioneiro.

Mas hoje em dia, se abrirmos um pouco os olhos, conseguiremos avistar realidades dantescas, não somente no mundo intercontinental, mas ao nosso lado. Criamos grades, e ficamos enjaulados, ar-condicionados, blindados e pasteurizados pela nossa ilusão de sucesso diante de uma população condenada ao fracasso.

Os muros não são tão invisíveis assim para nos poupar de ver crianças criadas a base de lixo e educadas nas ruas, aprendendo furtos e mendicâncias. São muros para nos manter condicionados a ilusão de paz e modernidade.

E sem derrubá-los, independente de quem está no poder, não conseguiremos a realidade da paz.

“qual a paz que eu não quero conservar para tentar ser feliz?” (Falcão)
“Uma criança na ponta de uma pistola, uma maneira diferente de pedir esmolas” - Lula Queiroga

NOVO LUGAR DO MUNDO

A primeira vez que vi Lenine cantando tem mais de 10 anos. Era o primeiro réveillon depois da separação dos meus pais. Fui com mamãe pra casa da família de Silvia.

Passamos um réveillon totalmente diferente. Eu assistia tudo como expectadora, porque não conhecia quase ninguém. Mas me diverti muito no meio daquela família tão diferente da minha.

Todo mundo dançava tudo, cantava qualquer coisa, falava em italiano “macarrônico” e brindava a cada segundo. Lá pras 3 horas da manhã, saímos para outra festa.

Não tinha como não estar triste naquele dia, porque em uma semana, faria um ano da separação que mudara tanto a minha vida. Mas aquela animação me contagiava. Eu me sentia como um caiaque, flutuando naquela onda de celebração, que me levava por outros mares, outros caminhos.

E depois de vagar por alguns bares no Recife Antigo, fomos todos pra torre malakoff, porque ia tocar uma dupla: Lenine e Suzano. A torre ainda estava se restaurando, ainda com os muros aos pedaços, como os meus.

Lembro sempre desta cena com meus cinco sentidos.

Enquanto o sol nascia, Lenine tocava: “no dia em que você foi embora eu fiquei sozinho no mundo sem ter ninguém, o ultimo homem no dia em que o sol morreu”.

A solidão daquela música era tão palpável que eu tateava ela adiante de mim, tão viva que eu cheirava. E seguindo a trilha sonora, de soslaio, eu ainda via o mar quebrando na praia.

Ele falava do sol que tinha morrido, mas o meu nascia e brilhava uma nova era.

Ontem, fui com Amanda assistir Siba na torre malakoff. Evento da cultura franco-brasileira. Chegamos cedo, comemos nas barraquinhas, entramos e sentamos na arena. Eu assisti as pessoas chegando, coloridas, alternativas, alegres.

Quando a música chegou, Siba convidou as pessoas a dançarem. Todo mundo começou a dançar côco, e eu, estranhamente, me mantive sentada, parada. Era eu de novo flutuando naquela onda de festa.

A torre hoje é um observatório, cuja melhor visão, na realidade, continua sendo da rua do bom Jesus. Os muros estão reconstruídos. Olhava pra Siba, com toda aquela identidade cultural, aquela regionalidade viva, cantando: “cada vez que eu dou um passo, o mundo sai do lugar”.

Tinha uma gravidade no meu corpo que não deixava eu levantar. Uma gravidade de sensações, de pensamentos. Mas era eu de novo e disso eu tinha certeza.

Só que tantos passos depois, eu voltei aqui de novo mas o mundo ainda sai do lugar.

Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar (Siba)

PELA PAZ

Neste último fim de semana, houve mais um incidente brutal no Rio de Janeiro, cujo ponto máximo foi que o helicóptero da policia militar foi abatido, literalmente, à tiros.

De lá pra cá, temos ouvido todo tipo de coisas.

Uma das temáticas era a falta de treinamento da polícia. Mas desta vez, em meio a selva de pedras, o piloto do helicóptero em chamas desviou inclusive os postes do campo de futebol onde caiu. Ou seja: bem treinado ele foi.

Então, o presidente Lula afirmou que estão tentando resolver o problema criado por “meia dúzia”. Meia dúzia de quê? De fuzis simultâneos? E se prontificou para fornecer todo o suporte que o governo do Rio precisar.

Seria muito cordial se não fosse o fato de que o tráfico de armas e drogas é primeiramente responsabilidade do governo federal. Excetuando-se a hipótese das armas e das drogas terem nascido das árvores da floresta tijuca ou terem caído do céu, depois de atravessarem a fronteira do país, percorrem longa distância até alcançarem a fronteira do Estado.

E dentro do Rio, chegarem somente ao crime. Como se pode observar, somente o helicóptero da polícia civil é blindado. O da militar, não. O porquê ninguém sabe... e por favor, não venham perguntar a Deus, coitado...

Tarso Genro diz que a estratégia de entrar na favela atrás de bandido só prejudica os moradores. E ai? Vamos deixá-los todos bem à vontade? À vontade inclusive pra continuar oprimindo os moradores...

Outro político do Rio sugeriu murar as favelas. Imagino que a estratégia deste deve ser, primeiro os muros, e depois as jaulas. Para observar se os seres humanos também têm dificuldade de se reproduzir em cativeiro.

O narcotráfico e o tráfico de armas são os dois negócios mais rentáveis do mundo. O que a gente nunca sabe é quem lucra com isso. A classe média não lucra nada e ainda paga com insegurança pela violência e pela droga dicção.

As classes baixas e baixíssimas, pagam as muitas prestações desta conta, além de tudo, com os próprios filhos. E os traficantes, ainda que protegidos num presídio de segurança máxima, são meros funcionários, geralmente, substituídos com execução.

Alexandre Garcia cita: “mais uma batalha desta guerra para impor a paz”. Mais do que contra-senso. Uma guerra pra impor a paz é até erro de português, contravenção à linguagem.

A paz precisa ser construída com dignidade. E dignidade não se constrói sem acesso à saúde e educação, sem segurança, sem confiança no futuro, sem esperança.

Confiança é o que faz eu ir a um show de Arnaldo Antunes, chamado yeyeye, com músicas da jovem guarda. Por mais que me pareça hostil, eu acredito que ele deve ter feito algo bom. E se eu não gostar ou ele errar, a trajetória dele me faz continuar acreditando.

E como diria Falcão, é pela paz que não podemos seguir admitindo...

MEDO DE AVIAO

Não é que eu tenha medo de avião não: eu morro de medo! O medo é uma sensação física, e dói. Enclausura a função psíquica do raciocínio. Por isso, a pior coisa é quererem explicar ciência nestes momentos críticos.

Eu não quero nem saber como o avião funciona. Isso me dá várias idéias, todas ruins. E elas voltam como erupções nas horas em que estou à bordo.

O sádico do comissário ainda veio explicar como abre aporta de segurança em caso de queda. O correligionário a quem foi dirigida a explicação interrrompeu afirmando: “com a bênção de Deus, a gente não vai precisar usar isso!”

Eu odeio quando o piloto resolve dar aquelas informações totalmente inúteis a minha pessoa, tipo altura e velocidade... pra que eu preciso saber disso? A única coisa que me interessa é quanto tempo falta pra chegar!

Antes, eu só alugava pobre criatura que sentasse do meu lado. Mas o avião foi se tornando um meio de transporte mais democrático, mais freqüente, e conseqüentemente foi tendo mais acidente. Hoje em dia, eu tomo remédio.

Tento manter apenas aquelas idéias tipo “comunidades primitivas”, onde se cria rituais para proteger dos maus agouros. Mas ainda assim, meu medo não se dilui.

As fatais coincidências abalaram até meu peri-espírito. Uma semana antes de eu ir pra França, o legasy derrubou o avião da gol. Tomei tanto remédio que só acordei lá.

Na ida, sonhei que ia numa estrada muito esburacada. Na volta, o sonho foi num bloco de frevo... O que me leva a crer que foi turbulência a noite inteira enquanto eu estava completamente sedada, com a glória de Deus.

Outro avião se esborrachou no chão e pegou fogo em congonhas 15 dias antes da minha prova de título de especialista, que por si só já torturava meu juízo.

Na ida, eu sempre peço: “Senhor, se for pra eu morrer, que eu morra na volta”. O que me faz me sentir praticamente condenada na volta.

O céu de São Paulo tem uma certa implicância comigo, sobretudo quando vou voltar pra casa. Em agosto, eu peguei tanta turbulência na volta de lá que a dose dobrada de remédio foi pouca. Não sei quem tremia mais: eu ou o avião.

Depois fui pra Noronha, com Laís. Um pouco mais de um mês depois da queda do avião da air France. E ai eu dizia, na realidade mais pra mim do que pra ela, que o céu pernambucano é meu conhecido e que daqui eu não caio.

Só pra desmoralizar minha familiaridade celestial, o avião chacoalhou. Pouco. Mas os nervos não estavam em bom estado. Ela me contou várias histórias do irmão dela, que tem mais medo que eu. E disse que morrer viajando, fazendo o que se gosta, é até bom. Me mostrou o céu e o sol radiante, lindo...

E eu pensei: “num dia tão lindo, dá até pena a pessoa morrer”. Porque o medo torna o “improvável” mais próximo que o “habitual”. E na realidade, tanto faz morrer na chuva ou no sol.

O fato é que heis-me à bordo novamente! Mas eu argumento “morrer agora, Senhor, é desperdício. Eu tenho uma função social tão impactante! Minha família precisa tanto de mim... eu juro que estudo mais!”

Com dose de remédio dobrada, argumentando primitivismos com Deus, se vocês lerem isso, é porque eu ainda estou viva!

SIDERALMENTE POR PERTO

A vida é um eterno cultivar se sentimentos, muito embora nem sempre a gente se aperceba disso. Mas percebendo ou não, estes sentimentos brotam e iluminam com suas cores, claras ou escuras, nossa áurea, nosso peri-espírito, nossa essência, enfim, nosso brilho.

Há 6 anos atrás, eu escutei que eu tinha uma imagem muito desatualizada de mim mesma. E desde então, entrei num processo de atualização dela. Porque, a bem da verdade, minha auto-estima freqüentou, durante muito tempo, o submundo das trevas.

Eu disfarçava bem, mas “no raso, no raso”, por muito pouquíssimo, eu botava minha viola no saco e partia antes de flagrarem minha auto-estima subterrânea.

Com a participação especial de muitas pessoas siderais, minha auto-estima foi subindo, por degraus sólidos e pontes firmes para encontrar a luz. Não a luz no fim do túnel, mas a luz do sol. E nos conceitos siderais, o “perto” nem sempre dá pra ir a pé... às vezes, tem que voar.

E aqui, na crosta terrestre, por estes dias, tive umas manifestações de prestigio realmente emocionantes.

Simone é minha parceira pra várias coisas, mas principalmente, pra nada. Porque ser parceiro pra nada é muito mais impactante do que ser parceiro pra tudo. Mone sai de casa para fazer curativo no meu cotovelo, me busca no aeroporto, vai pra programa de índio achando graça, vai às compras (abençoadas por são Piranga) comigo pra evitar que eu desista e fuja. Tudo isso ela diz que é divertido. Mas ela só vai pro samba por causa do meu prestígio.

Babita é supermaezona, com a parcialidade inquestionável, ela super-protege até a gente. Ela me deu o “amadrinhamento” de Heitor, só que é virtual e socializado. E o batizado vai ser indefinidamente adiado para evitar conflitos entre as madrinhas e padrinhos selecionados. Mas graças a meu prestígio, ela vai sair do Rio pra passar só dois dias em Recife, sem Heitor e sem o seu marido (o “bonitão”). Vem só pra me ver... Deixar Heitor dois dias, é realmente muito prestigio...

Fiquei emocionada...

Depois foi Laís. Às vezes eu acho que Laís não existe. Ela se diverte até arrumando indumentária de veado desengonçado em festa gay. E assim ela faz amigos em toda a extensão sólida e aquática do planeta – incluindo as tartarugas. Agora ela foi fazer supervisão interplanetária de ET, e não bastasse isso, ainda me ligou ontem tarde da noite, porque estava muito cansada pra escrever, mas queria passar o relatório detalhadamente.

Mas agora foi Renata. Minha amiga mais fresca detesta acordar cedo, usa suporte de renda pra tomar cafezinho todo dia e acha que mulher devia nascer de rimel. Pois bem, depois de um dia super cansativo de trabalho, foi me buscar pra eu ficar na casa dela, e ainda foi no mercado "comprar coisas de café da manhã". Isso, por si só, já me deixou lisonjeada.

Mas além disso, ela fez questão de me dar carona até o metrô, que é muito perto. E naquela manhã nublada, ela saiu de pijama, chinelo e óculos (detalhe que alem de rimel, ela nasceu de lente de contato!). E eu em pé, olhando ela entrar no carro daquele jeito, eu me lembrei de todos os meus amigos e pedi a Deus para merecer os amigos que tenho.

Feliz demais por vocês existirem, ainda que o meu perto abarque distâncias siderais

os sem padrões do amor

Tanto se fala de amor, mas atire a primeira pedra aquele que sabe amar!

Tem gente que diz que “ama demais” e transpassa com sonhos o ser amado. Tem muita gente dizendo que morre de amor, mas pouca gente vive com ele. Ele se confunde com posse, com medo de solidão, com ilusão.

Lá vai o coitado do amor, preso em conceitos sólidos, controlado, dominado, aterrorizado, desnutrido, sem apoio ou incentivo, desacreditado.

Porque no dia a dia, na noite a noite, todo mundo duvida que exista amor. E quando ele for irremediadamente comprovado, duvida-se que ele dure...

É mais fácil ver o sonho do que o amor. Tudo deve se encaixar no sonho: no seu ou no alheio, você e todo mundo. Enquanto o sonho está lá no imaginário. E às vezes, o sonho chega. Mas o risco dele não caber na gente é imenso.

Como o cachorro que corre atrás do carro. E ai o carro pára. Aquele carro parado não significa nada para o cão. Não interage, não fala, não acrescenta, não constrói, não amedronta, não acalenta.

É apenas um sonho parado.

Ai alegam: o sonho precisa estar sempre adiante para que a gente esteja sempre correndo atrás dele. Porque é preciso que o sonho seja sempre inatingível, para que o amor não acabe.

Neste momento, o amor virou o descompasso da ansiedade, da espera de algo que nem se sabe o que é.

O que eu desejo? Quais são meus sonhos?

Guardo sonhos impossíveis, como voar. E ai não paro de sonhar. Um belo dia, meu sonho chegou, e eu não acreditei. Tive medo. Fugi. Pintei de defeitos. Eu não queria aquele sonho? Fiquei com medo dele não caber em mim, ou eu não caber nele.

Era melhor continuar no hábito de tentar adaptar a realidade. Pelo menos isso eu sempre soube fazer. É tão difícil acreditar no sonho real, na realidade fácil...

Guardo em mim, ao lado dos sonhos impossibilitados, o vazio de não saber encantar o possível. O vazio de não saber ser feliz na realidade, de continuar inventando sonhos para mobilizar o desejo.

O desejo está ali: palpável. Não precisar inventar sonhos... O desejo está ali, basta ver... Seria lícito uma realidade fácil neste mundo alucinado? A felicidade é lícita? Quem tem direito a ser feliz?

Quando é que o amor deu certo? O amor que durou a vida toda ou o que teve eco na alma? O amor que complementou? Quanto tempo o amor tem obrigação de durar?

E nestas considerações sobre a ilegalidade do amor, eu temia o futuro, sem perceber que temia muito mais o presente...

ET COLORIDO

A imensa maioria de vocês sabem que eu estou esperando um ET colorido de um planeta com água para me casar. Quem não sabia, ficou sabendo agora!

Ontem, na igreja da Sé de Olinda, ao som de violinos e rabecas, eu tive uma aparição. Em pleno concerto, o Jesus totalmente Cristo do altar começou a ficar colorido: vermelho, laranja, amarelo e verde.

Fiquei chocada!

A bem da verdade, ninguém pode negar que Jesus é um ser iluminado de outra esfera cósmica. E no habitat dele tem tanta água que cai – em uns lugares mais e em outros menos, mas tudo bem.

Também é fato que todo dia converso com ele fervorosamente. Mas um fervor de outra natureza que aquela necessária ao casamento e coisas afins.

Pra casar com Jesus, a primeira opção é entrar num convento - de onde eu seria expulsa antes do primeiro segundo. Antes mesmo que meus amigos (vocês) me visitassem.

A outra opção era eu ressuscitar - nem tão evoluída assim. Nesta opção, suspeito fortemente que nesta opção era mais fácil eu casar com seres sub-terrestres (os vermes). Não é esta a opção ainda.

Ai juntou toda a coletividade dos artistas, violinos e rabecas, inclusive meu queridinho AC Nóbrega, Ele ficou azul. Azul não, lilás! Violeta, como diria o violinista francês. Então, bem acostumada com a amizade com Jesus, captei a parábola.

Ficamos coloridos quando a luz que brilha em nós se combina com o lugar e a magia das almas que nos circundam. É preciso cultivar a cor como quem planta um jardim, porque ninguém brilha sozinho!

Brilhemos então!

Judiciário

O poder judiciário pede aumento de salário. Considera justo aumentar para um salario digno, cerca de 26 mil, para trabalhar, do jeito que eles trabalham. Eu diria: arduamente.
Uma carga horária elevada, para fazer funcionar a máquina, do tempo, do judiciário.

Uns decidem os salários que ganham e os nossos. Mas só aumenta o deles. É a democracia! Um sitema de governo onde o diabo manda e o povo paga a conta. Como eu ainda não me candidatei a nada no plenário, resta-me obedecer...

E nas condições legislativas atuais, onde a gente vê o funcionamento da justiça da "lei do cão", sugiro que desfaçamos o poder judiciário e tornemos oficial a lei que já prevalece: a lei da selva! Manda quem pode, obedece quem tem juíz(o).

Amiga até debaixo d’água – simplesmente Lalá

Eu conheci Laís num congresso de fisiatria, quando ela ofereceu a casa dela pra eu passar meu estagio de dois meses na AACD e me deu seus contatos. Ela esperou eu ligar e eu desacreditei tanto que nem me lembrava do convite!

Tanto que quando ela me viu no estágio, perguntou porque e não liguei e eu nem a reconheci. Segundo ela, olhei com uma cara de “quem é esta doida?”. Mas como ela não guarda rancor, de todos os residentes, foi quem ficou minha amiga.

Conheci os pais dela, fez roteiros em São Paulo pra mim, e se não fosse ela, na prova de título, eu teria me lascado – no mais claro pernambuquês.

No carnaval deste ano, ela veio pra cá. Quando souberam que vinha uma médica paulista pra cá, quase me crucificaram. É que a galera tem preconceito com médico e com paulista. E disseram que eu ia matar a paulista, ladeira acima e ladeira abaixo.

Mas foi só ela chegar e todo mundo mudou de idéia. Quinta de carnaval, ela e Kico já dividiram o mundo entre o bloco da lancha e o bloco da lage. Na sexta, foi a pé, ao lado da mulher maravilha, em plena luz do dia, realizar a última refeição do carnaval na casa alheia.

Foi pro “lili” no mercado, de lá seguiu andando pelas ruas, viu o galo dormindo no rio, bateu foto encomendada, deu parabéns para todo mundo, fez propaganda da mulher cana e de chapeuzinho vermelho – na ocasião só de chapéu.

E arrasou corações pernambucanos.

A despeito das comidas integrais de minha casa, ela tinha energia de “mulher-aço” em pleno dilúvio no sábado, pediu bênçãos aos padres no domingo, deu endereço errado na segunda e na terça, depois de 4 dias achando pouco, pegou o “acho é pouco” novamente.

Na quarta, depois do almoço farto, brindamos o ano novo (que só começa depois do carnaval) com champanhe, pulando ondas, antes do vôo.

Cheguei de Noronha com Laís há pouco. Depois do MIMO, é claro. Ela ficou amiga de todos os transeuntes de Olinda, e em Noronha, dos ilhéus, dos visitantes, dos guias, das tartarugas e das mabuias.

Viu luas cadentes e ETs marinhos. Foi recebida com festa. Trafegou do “lixo ao luxo”, com a desenvoltura que lhe é peculiar e ajudou “auto-estimas” a escalar do submundo das trevas.

Quando a gente fala de Lalá, acham que é exagero. Mas é só você ter a honra de conviver com ela que você concorda. São pessoas como ela que fazem a gente acreditar que o mundo merece insistência e é possível ser feliz com o possível, mesmo que ele ande muito longe do sonho.

Porque a felicidade brilha dentro de cada um de nós.

desculpas azuis

Escrevi para Saulo perguntando se ele tinha algum texto meu “das antigas”. Ele respondeu que tinha 35, mas que só dava se eu desse, em troca, parceria no livro – que eu nunca escrevi.

Enfim: muito otimista para quem é pessimista convicto.

Eu costumo dizer que cada um tem os amigos que merece. Eu respondi, malcriada, que ele é meu amigo mais “fuleiro”, no mais claro pernambuquês e que daí que ele mandasse, eu já teria netos.

Mas ineditamente, ele me mandou todos e no mesmo dia!

Tinha de tudo. Algumas pérolas que eu pensava perdidas, outras que eu nem lembrava ter escrito. Tinha até comentário de fórmula 1 - porque cara de pau nao foi feita pra dar cupim! Ele disse que foi divertido mandar. Nem precisa dizer o quanto foi divertido receber.

Então, tive que mudar a resposta e pedir desculpas.

Saulo é meu amigo há uns 15 anos. Eu vivia na casa deles durante a faculdade e residência inteira. Enquanto Vivian era a melhor amiga de Dani, Saulo era amigo e cúmplice de Hermengarda. Foi o primeiro a reconhecê-la em texto pelo “estilo literário”. E cita, sem delongas, várias situações em que fomos azuis – nem todas sóbrias, é bem verdade.

Quando ele brigava com todo mundo em casa, como um bom ariano, Vivian me convocava para “amansar a fera”. E quando eu chorava me sentindo o cristo do mundo, ele me tirava da cruz e dissolvia meu drama como se fosse um pó.

Como o espaço sideral não tem mosquito, a gente projetou uma casa na árvore, sem relógio na parede e com as janelas sempre abertas – para Herme chegar sem avisar.

Eu, ele e Vivian líamos vários livros. Mas era com Saulo que eu discutia horas a fio as entrelinhas do texto. Era meu companheiro de cinema também. Um dia o guarda da fundação fechou o cinema e teve que mandar a gente embora. Estávamos na porta, argumentando fervorosamente o fim do crocodilo de “adaptação”. Porque as nossas filosofias eram meio arianas também.

A gente também trocava música. Ele me apresentava umas, e eu explicava Zé Ramalho e Raul Seixas – praticamente como se eu tivesse co-autoria. Hoje, com meu radio com mp3, estou eu escutando os discos que ele gravou pra mim.

Era a Saulo que eu confiava minha embriaguez, fora de casa. E ele cuidava de mim com lealdade, até bebia menos para se responsabilizar. E teve uma festa que a gente foi “esperar Hermengarda chegar”, trazendo azul pro céu de novo, na beira da praia de Olinda, que fedia de tão suja.

Hoje em dia, Saulo é quase um são Pedro: chega sem avisar, uma vez por ano e dura menos de 24 horas. Mas apesar disso, a parceria ainda existe. Toda vez que tem alguma coisa importante na minha vida, eu nunca deixo de contar pra ele.

II diário de Pacífico: amor no coração

Eu adoro meu carro. E gostava de dirigir. Mas está cada vez mais difícil. Por causa do trânsito. Hoje de manhã, eu cheguei à conclusão que o problema do trânsito é a falta de amor no coração das pessoas.

Já me deram uma receita dos 3 botões: usar carro automático, ligar o som e o ar condicionado. Mas eu acho que na realidade, são quatro, porque ainda tem o botão do “foda-se a humanidade”.

Porque sinceramente, eu não acredito que ninguém veja o “próximo” no trânsito, quanto mais que o ame!

Saio de manhã, leve e fresca. O dito cidadão resolveu atravessar a rua de 3 faixas de um lado a outro, em menos de 3 metros. Ele tem um carrão, por isso, ligar a seta já é mais do que suficiente, é praticamente uma ordem, ou um passaporte mágico.

E os súditos que obedeçam. Afinal, súdito não precisa de amor! Ai não deu, o sinal abriu, ele permaneceu parado e atravessado no meio da rua, com o sinal aberto – mero detalhe.

Ali é o lugar dele! Convicto, ele nasceu para ficar ali! E os “próximos” que se adéqüem ao posicionamento.

Outro desamor freqüente é o chamado “pé no bolso”, em outras palavras, velocidade máxima de 40km/h. Alguém com muito amor no coração pode dizer: “é que ele é um cara calmo e não tem pressa”.

Então, eu pergunto: quem já viu a galera do “pé no bolso” enfileirado?

Nunca! O que se vê é um “pé no bolso” na frente, e uma galera de pacíficos enfileirados, atrasados e revoltados atrás querendo ultrapassar. E se tiver dois “pé no bolso”, vai um em cada fila.

Por quê?

É obvio que o que eles fazem com os “próximos”, não querem para si. E o pior mesmo, o mais desalmados, é o “pé no bolso” que vai em cima da faixa, feliz e tranqüilo, atrapalhando duas faixas de próximos ao mesmo tempo.

O sinal é outro local freqüente de manifestação de falta de amor.

Sinal verde, lá vem o “pé no bolso” lenta e vagarosamente. Sinal amarelo. Ele acelera, passa sorridente no sinal e deixa a coletividade de “próximos” no sinal vermelho. Um destes até já me confessou que acha a maior graça em fazer isso. Prazer mórbido de quem não conhece o amor.

Lá vem o egoísta perdido.

Ele procura uma rua, uma casa, uma coisa na bolsa ou dentro do carro. Bem devagarzinho. Além de tudo, ele é cego. E supõe, obviamente, que os “próximos” ao redor são todos desocupados. Você buzina, o cara fica indignado! Porque o “próximo” é que está irritado por algum problema.

O celular!

Tanto faz se a conversa é boa ou ruim. Porque o fato é que tanto faz também os “próximos” que tentam administrar as mudanças de faixa sem sinalização, a velocidade regressiva ou o cara parado no sinal verde – batendo papo.

O pior de tudo é o egoísta curioso.

Tem um acidente: tráfego interrompido. Tudo bem. O que não se explica é a obstrução do tráfego da contra-mão. Por quê? São os egoístas curiosos que querem ver! Chamar SAMU ou oferecer ajuda é a coisa mais rara do mundo.

Mas todo mundo diminui. Pára. Já vi até gente descendo pra ver melhor a desgraça do “próximo”. Pra quê? Pra contar quando chegar atrasado no trabalho, que viu um acidente.

Ou de noite, no barzinho do fim de semana, quando faltar papo, relatar que presenciou o acidente, com detalhes mórbidos – caso hajam. Não perca seu tempo tentando encontrar o amor no coração desta pessoa.

Outro coração que não tem amor a nada, nem a própria vida, é o coração do motoqueiro. Não tem amor nem medo. E conseqüentemente, não tem crença. Não acredita nem sequer nas leis da física, da aceleração, da gravidade, do impacto.

Nada existe para o motoqueiro.

Brotam de um buraco no chão bem atrás do seu carro. De onde, ninguém sabe. O fato é que em menos de um segundo eles já tentaram ou conseguiram ultrapassar seu carro, já quase caíram, e já lhe esculhambaram. E ignoraram a presença física do retrovisor do seu carro.

E se um se acidentar, brotam do chão vários outros, para ameaçar todo mundo que não tem moto!

Meu coração não merece as considerações sobre a falta de amor à pátria, dentre outras coisas, do DETRAN e do governo. Mas é imperativo salientar a tentativa nada romântica de transformar a cidade em réplicas da superfície lunar, cheia de crateras, e sem são Jorge, é claro.

Já tem até programa da globo no domingo à noite para mostrar os buracos do Brasil em rede nacional. Porque nós, brasileiros, já estamos acostumados à falta de amor. Eu acho que antes das caóticas leis de trânsito, era ótimo começar a respeitar os 10 mandamentos de Deus.