sábado, janeiro 30, 2010

REPÚBLICA DOS CÃES E O LOBISOMEM

Nos últimos 15 dias, recebi queixas sobre “tristezas imprecisas”, “insatisfações imotivadas” e “angustias indefinidas” de várias pessoas diferentes e de localizações geográficas distintas.

Uma delas, muito lucidamente, comenta, dolorida, que a vida segue a mesma, sem alterações significativas. No entanto, há semanas de satisfação plena e alegria inusitada e outras, de desconsolo profundo.

Como diria o poeta, “o que dá pra rir, dá pra chorar”.

No fim das contas, hoje, quase todo mundo é bipolar ou tem TPM. São os dois “slogans” mais comuns do mundo moderno para justificar este movimento psíquico oscilante típico do ser humano.

Esta oscilação é tão conhecida que não leva o insatisfeito a fazer proposta de mudança alguma ou solução, nem para si nem para ninguém. E quando o faz, logo em seguida, arrepender-se-á, assim que os sentimentos retornarem ao nível da acomodação.

Uns admitem motivos internos – sem que efetivem mudanças. Já outros, atribuem causas externas, causas estas que são constantes. E quando esta causa é uma pessoa, ela geralmente também é inseparável.

Disse-me um dia um amigo triste que desde que aprendeu a achar culpa nos outros, nunca mais teve culpa de nada. Nem culpa e nem solução, diga-se de passagem.

E quando chega o fim do ano cristão, todos se crucificam e se martirizam pensando nas propostas não atingidas, preteridas ou alcançadas e ainda assim, insatisfeitas.

É um marco de insatisfação sazonal, vamos dizer assim.

Os solteiros, reclamam de não ter parceiros. E os casados, reclamam de tê-los. E todo mundo reclama de sexo.

Quem não tem filho, reclama da falta de perspectivas familiares. Quem tem, reclama do trabalho, das preocupações, das limitações e das despesas. Mas todo mundo reclama das crianças.

Quem está desempregado reclama do ócio. Quem tem emprego público, reclama da monotonia. Quem tem emprego privado, reclama da instabilidade. E todo mundo reclama da falta de dinheiro.

Quem não tem família, reclama da falta de respaldo. Quem tem, reclama dos parentes. Mas todo mundo reclama de alguém.

Eu, aqui, escutando as queixas, me lembrei dos amigos peludos de infância. Como é autêntica a felicidade do cão! E a do vira-latas então! Quem dera algum antidepressivo tivesse o poder de dar um espírito de vira-latas...

Nos dias frios, se esquentam deitados ao sol. No calor, cavam um buraco para se refrescar na terra úmida. A água, suja ou limpa, é deliciosa. Cada uma tem seu sabor.

E comer é outra satisfação: ofertado, caçado ou roubado. Cada um com seu sabor de alegrias diferentes. Sai lá a farejar o chão. Não vejo nada no chão. Nem ele, mas mesmo assim, fareja. Se encontrar alguma coisa, é uma alegria. E se for de comer então, melhor ainda!

E sair na rua com o vento na cara! Nossa... a rua, por si só, já é muito interessante. Porque na realidade, tudo beira a novidade. E toda novidade interessa...

Chega um humano! Se for o seu, é festa! Se for desconhecido: vamos ver! Se for inóspito, vai exercitar gloriosamente sua função de cão de guarda. Ainda que haja muitas desproporções entre o guardião pequinês e o invasor da estiva.

Feio ou bonito, todo cachorro é feliz! Geralmente os pobres são mais felizes, porque não tem donos neuróticos humanizando sua natureza canina!

Eu, com minha humanidade agravada pela adolescência, me sentava pra olhar a tarde-a-tarde dos meus amigos super-felizes, brincando com qualquer coisa. E ficava pensando como seria o mundo governado pelos cães.

Eu sempre tive muitas idéias assim.

E, injustiças a parte, fatalmente seria um povo mais satisfeito. Então, a única conclusão que eu posso chegar neste fim de ano é que a melhor proposta pra mim é realmente namorar um lobisomem!

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