sábado, janeiro 30, 2010

NOVO LUGAR DO MUNDO

A primeira vez que vi Lenine cantando tem mais de 10 anos. Era o primeiro réveillon depois da separação dos meus pais. Fui com mamãe pra casa da família de Silvia.

Passamos um réveillon totalmente diferente. Eu assistia tudo como expectadora, porque não conhecia quase ninguém. Mas me diverti muito no meio daquela família tão diferente da minha.

Todo mundo dançava tudo, cantava qualquer coisa, falava em italiano “macarrônico” e brindava a cada segundo. Lá pras 3 horas da manhã, saímos para outra festa.

Não tinha como não estar triste naquele dia, porque em uma semana, faria um ano da separação que mudara tanto a minha vida. Mas aquela animação me contagiava. Eu me sentia como um caiaque, flutuando naquela onda de celebração, que me levava por outros mares, outros caminhos.

E depois de vagar por alguns bares no Recife Antigo, fomos todos pra torre malakoff, porque ia tocar uma dupla: Lenine e Suzano. A torre ainda estava se restaurando, ainda com os muros aos pedaços, como os meus.

Lembro sempre desta cena com meus cinco sentidos.

Enquanto o sol nascia, Lenine tocava: “no dia em que você foi embora eu fiquei sozinho no mundo sem ter ninguém, o ultimo homem no dia em que o sol morreu”.

A solidão daquela música era tão palpável que eu tateava ela adiante de mim, tão viva que eu cheirava. E seguindo a trilha sonora, de soslaio, eu ainda via o mar quebrando na praia.

Ele falava do sol que tinha morrido, mas o meu nascia e brilhava uma nova era.

Ontem, fui com Amanda assistir Siba na torre malakoff. Evento da cultura franco-brasileira. Chegamos cedo, comemos nas barraquinhas, entramos e sentamos na arena. Eu assisti as pessoas chegando, coloridas, alternativas, alegres.

Quando a música chegou, Siba convidou as pessoas a dançarem. Todo mundo começou a dançar côco, e eu, estranhamente, me mantive sentada, parada. Era eu de novo flutuando naquela onda de festa.

A torre hoje é um observatório, cuja melhor visão, na realidade, continua sendo da rua do bom Jesus. Os muros estão reconstruídos. Olhava pra Siba, com toda aquela identidade cultural, aquela regionalidade viva, cantando: “cada vez que eu dou um passo, o mundo sai do lugar”.

Tinha uma gravidade no meu corpo que não deixava eu levantar. Uma gravidade de sensações, de pensamentos. Mas era eu de novo e disso eu tinha certeza.

Só que tantos passos depois, eu voltei aqui de novo mas o mundo ainda sai do lugar.

Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar (Siba)

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