sábado, janeiro 30, 2010

MEDO DE AVIAO

Não é que eu tenha medo de avião não: eu morro de medo! O medo é uma sensação física, e dói. Enclausura a função psíquica do raciocínio. Por isso, a pior coisa é quererem explicar ciência nestes momentos críticos.

Eu não quero nem saber como o avião funciona. Isso me dá várias idéias, todas ruins. E elas voltam como erupções nas horas em que estou à bordo.

O sádico do comissário ainda veio explicar como abre aporta de segurança em caso de queda. O correligionário a quem foi dirigida a explicação interrrompeu afirmando: “com a bênção de Deus, a gente não vai precisar usar isso!”

Eu odeio quando o piloto resolve dar aquelas informações totalmente inúteis a minha pessoa, tipo altura e velocidade... pra que eu preciso saber disso? A única coisa que me interessa é quanto tempo falta pra chegar!

Antes, eu só alugava pobre criatura que sentasse do meu lado. Mas o avião foi se tornando um meio de transporte mais democrático, mais freqüente, e conseqüentemente foi tendo mais acidente. Hoje em dia, eu tomo remédio.

Tento manter apenas aquelas idéias tipo “comunidades primitivas”, onde se cria rituais para proteger dos maus agouros. Mas ainda assim, meu medo não se dilui.

As fatais coincidências abalaram até meu peri-espírito. Uma semana antes de eu ir pra França, o legasy derrubou o avião da gol. Tomei tanto remédio que só acordei lá.

Na ida, sonhei que ia numa estrada muito esburacada. Na volta, o sonho foi num bloco de frevo... O que me leva a crer que foi turbulência a noite inteira enquanto eu estava completamente sedada, com a glória de Deus.

Outro avião se esborrachou no chão e pegou fogo em congonhas 15 dias antes da minha prova de título de especialista, que por si só já torturava meu juízo.

Na ida, eu sempre peço: “Senhor, se for pra eu morrer, que eu morra na volta”. O que me faz me sentir praticamente condenada na volta.

O céu de São Paulo tem uma certa implicância comigo, sobretudo quando vou voltar pra casa. Em agosto, eu peguei tanta turbulência na volta de lá que a dose dobrada de remédio foi pouca. Não sei quem tremia mais: eu ou o avião.

Depois fui pra Noronha, com Laís. Um pouco mais de um mês depois da queda do avião da air France. E ai eu dizia, na realidade mais pra mim do que pra ela, que o céu pernambucano é meu conhecido e que daqui eu não caio.

Só pra desmoralizar minha familiaridade celestial, o avião chacoalhou. Pouco. Mas os nervos não estavam em bom estado. Ela me contou várias histórias do irmão dela, que tem mais medo que eu. E disse que morrer viajando, fazendo o que se gosta, é até bom. Me mostrou o céu e o sol radiante, lindo...

E eu pensei: “num dia tão lindo, dá até pena a pessoa morrer”. Porque o medo torna o “improvável” mais próximo que o “habitual”. E na realidade, tanto faz morrer na chuva ou no sol.

O fato é que heis-me à bordo novamente! Mas eu argumento “morrer agora, Senhor, é desperdício. Eu tenho uma função social tão impactante! Minha família precisa tanto de mim... eu juro que estudo mais!”

Com dose de remédio dobrada, argumentando primitivismos com Deus, se vocês lerem isso, é porque eu ainda estou viva!

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