sábado, janeiro 30, 2010

II diário de Pacífico: amor no coração

Eu adoro meu carro. E gostava de dirigir. Mas está cada vez mais difícil. Por causa do trânsito. Hoje de manhã, eu cheguei à conclusão que o problema do trânsito é a falta de amor no coração das pessoas.

Já me deram uma receita dos 3 botões: usar carro automático, ligar o som e o ar condicionado. Mas eu acho que na realidade, são quatro, porque ainda tem o botão do “foda-se a humanidade”.

Porque sinceramente, eu não acredito que ninguém veja o “próximo” no trânsito, quanto mais que o ame!

Saio de manhã, leve e fresca. O dito cidadão resolveu atravessar a rua de 3 faixas de um lado a outro, em menos de 3 metros. Ele tem um carrão, por isso, ligar a seta já é mais do que suficiente, é praticamente uma ordem, ou um passaporte mágico.

E os súditos que obedeçam. Afinal, súdito não precisa de amor! Ai não deu, o sinal abriu, ele permaneceu parado e atravessado no meio da rua, com o sinal aberto – mero detalhe.

Ali é o lugar dele! Convicto, ele nasceu para ficar ali! E os “próximos” que se adéqüem ao posicionamento.

Outro desamor freqüente é o chamado “pé no bolso”, em outras palavras, velocidade máxima de 40km/h. Alguém com muito amor no coração pode dizer: “é que ele é um cara calmo e não tem pressa”.

Então, eu pergunto: quem já viu a galera do “pé no bolso” enfileirado?

Nunca! O que se vê é um “pé no bolso” na frente, e uma galera de pacíficos enfileirados, atrasados e revoltados atrás querendo ultrapassar. E se tiver dois “pé no bolso”, vai um em cada fila.

Por quê?

É obvio que o que eles fazem com os “próximos”, não querem para si. E o pior mesmo, o mais desalmados, é o “pé no bolso” que vai em cima da faixa, feliz e tranqüilo, atrapalhando duas faixas de próximos ao mesmo tempo.

O sinal é outro local freqüente de manifestação de falta de amor.

Sinal verde, lá vem o “pé no bolso” lenta e vagarosamente. Sinal amarelo. Ele acelera, passa sorridente no sinal e deixa a coletividade de “próximos” no sinal vermelho. Um destes até já me confessou que acha a maior graça em fazer isso. Prazer mórbido de quem não conhece o amor.

Lá vem o egoísta perdido.

Ele procura uma rua, uma casa, uma coisa na bolsa ou dentro do carro. Bem devagarzinho. Além de tudo, ele é cego. E supõe, obviamente, que os “próximos” ao redor são todos desocupados. Você buzina, o cara fica indignado! Porque o “próximo” é que está irritado por algum problema.

O celular!

Tanto faz se a conversa é boa ou ruim. Porque o fato é que tanto faz também os “próximos” que tentam administrar as mudanças de faixa sem sinalização, a velocidade regressiva ou o cara parado no sinal verde – batendo papo.

O pior de tudo é o egoísta curioso.

Tem um acidente: tráfego interrompido. Tudo bem. O que não se explica é a obstrução do tráfego da contra-mão. Por quê? São os egoístas curiosos que querem ver! Chamar SAMU ou oferecer ajuda é a coisa mais rara do mundo.

Mas todo mundo diminui. Pára. Já vi até gente descendo pra ver melhor a desgraça do “próximo”. Pra quê? Pra contar quando chegar atrasado no trabalho, que viu um acidente.

Ou de noite, no barzinho do fim de semana, quando faltar papo, relatar que presenciou o acidente, com detalhes mórbidos – caso hajam. Não perca seu tempo tentando encontrar o amor no coração desta pessoa.

Outro coração que não tem amor a nada, nem a própria vida, é o coração do motoqueiro. Não tem amor nem medo. E conseqüentemente, não tem crença. Não acredita nem sequer nas leis da física, da aceleração, da gravidade, do impacto.

Nada existe para o motoqueiro.

Brotam de um buraco no chão bem atrás do seu carro. De onde, ninguém sabe. O fato é que em menos de um segundo eles já tentaram ou conseguiram ultrapassar seu carro, já quase caíram, e já lhe esculhambaram. E ignoraram a presença física do retrovisor do seu carro.

E se um se acidentar, brotam do chão vários outros, para ameaçar todo mundo que não tem moto!

Meu coração não merece as considerações sobre a falta de amor à pátria, dentre outras coisas, do DETRAN e do governo. Mas é imperativo salientar a tentativa nada romântica de transformar a cidade em réplicas da superfície lunar, cheia de crateras, e sem são Jorge, é claro.

Já tem até programa da globo no domingo à noite para mostrar os buracos do Brasil em rede nacional. Porque nós, brasileiros, já estamos acostumados à falta de amor. Eu acho que antes das caóticas leis de trânsito, era ótimo começar a respeitar os 10 mandamentos de Deus.

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