sábado, janeiro 30, 2010

Muro nosso de cada dia

Reza a lenda que, para se conhecer uma pessoa, basta lhe dar dinheiro ou poder, ou ambos. E assim, a história mostra grandes revolucionais idealistas convertidos em ditadores sanguinários.

E os que assim não o fizeram, ficaram à margem da fama e da história, ou foram “suicidados” pelos seus antigos colegas de causa. Tanto faz se é da direita ou da esquerda, basta ver Fidel e Guevara. Depende mesmo é do “calibre” de cada um, como diz o matuto.

Também varia a quantidade de poder capaz de deslumbrar uma pessoa, haja vista certos porteiros e recepcionistas. Mas em geral, o poder que dá fama é escrito com sangue nas páginas da historia.

E a política escreve história. É uma das formas mais inebriantes de poder. Como todo jogo, há quem ganhe rios de dinheiro e há quem perca tudo o que tem por causa da mesma política. Independentemente do partido.

A política é um poder condicional, conjuntural, estratégico e fulgaz, com um forte componente ilusionário. Mas ninguém acredita nisso quando embriagado pela sede do poder político.

A moeda é o que você está disposto a dar, do que você está disposto a abrir mão, do que você tem coragem de desdizer ou afirmar, por quem você está disposto a passar (em geral, por cima) e aonde você quer chegar.

Vale muita coisa neste “exercício do poder”, desde a dedicação à causa, à maledicência, à paralisação dos processos, à banalização dos projetos, à usurpação das idéias, ao boicote da auto-estima alheia.

Pode chegar até à eliminação da concorrência, que pode ser simbólica ou real – depende da esfera do poder almejado. Mas sempre é muito importante que o subjugado entenda exatamente qual o seu lugar e quem está mandando, ou pelo menos, pensa isso.

O cumprimento das leis, em geral, é enviesado.

Poucos vão se lembrar de vê, mas todos de escutar, do muro de Berlim, que dividiu a Alemanha em duas por muitos anos. De um lado, o capitalismo. Do outro, a ditadura comunista, que como toda ditadura, assassinou muitos sonhos e muitas realidades.

Aprisionados por muros e grades ideológicas, perseguido pelos pensamentos, o povo foi mantido num cárcere murado, à margem da tecnologia, da liberdade, e sobretudo, da informação. E no quesito informação, abrange desde as informações científicas, políticas até às notícias sobre os familiares e desaparecidos.

Acomodar-se é fácil. Lucrar indevidamente com as desigualdades é cada dia mais comum. Abster-se de tomar postura é compreensível. Negar a realidade é sempre possível. Mas o exercício deste poder mutilante é de outra ordem, de uma natureza hedionda.

Não sei o que leva uma pessoa a este ciclo. Mas para manter-se nele, é necessário uma certa dose de ódio. Suspeito eu que também de inveja, auto-estima baixa que exija tanto para a auto-afirmação, reconhecimento do público, ainda que torturado, mutilado e amordaçado.

Hoje celebramos a queda do muro de Berlim, tão distante da nossa realidade. É realmente surreal imaginar a metade de um país cercada por um muro com a metade do povo prisioneiro.

Mas hoje em dia, se abrirmos um pouco os olhos, conseguiremos avistar realidades dantescas, não somente no mundo intercontinental, mas ao nosso lado. Criamos grades, e ficamos enjaulados, ar-condicionados, blindados e pasteurizados pela nossa ilusão de sucesso diante de uma população condenada ao fracasso.

Os muros não são tão invisíveis assim para nos poupar de ver crianças criadas a base de lixo e educadas nas ruas, aprendendo furtos e mendicâncias. São muros para nos manter condicionados a ilusão de paz e modernidade.

E sem derrubá-los, independente de quem está no poder, não conseguiremos a realidade da paz.

“qual a paz que eu não quero conservar para tentar ser feliz?” (Falcão)
“Uma criança na ponta de uma pistola, uma maneira diferente de pedir esmolas” - Lula Queiroga

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