sexta-feira, julho 02, 2010

Inocência Surda

Por: hermengarda cavalcanti

Após a largada oficial da maratona eleitoral, constatei que o limite da cara de pau deixou de ser o céu. Agora, os limites conquistaram o inferno. A qualquer hora do dia, podemos assistir afirmações calorosas e textuais das coisas mais incríveis nas “propagandas eleitorais”.

Este nome “propaganda eleitoral”, já torna claro e evidente a mercantilização dos votos. As melhores campanhas são as que pagam aos melhores publicitários. E para isso, todos os tipos de “financiamento”, mais que bem vindos, são exaustivamente procurados.

Agora, em plena sessão da tarde, passam “chamadas”, mini-propagandas de todos os partidos. Não se respeita mais nem as crianças! E a copa, em sua função de desvio de atenções, tem favorecido bastante.

Lula, se sentindo, talvez, a reencarnação de padre Cícero, haja vista, ele ainda se diz nordestino, quando convém, solicitou a seleção que passasse em Brasília, para receber a bênção.

Quando a gente pensa que já viu tudo, assiste a propaganda do PR, o Partido da República. Resta saber a qual república eles se referem.

Garotinho dava seu depoimento, obviamente emocionado. Encontrou o Estado do Rio em ruínas. Mas, graças a sua dedicação, sua seriedade e sua honestidade, durante seu mandato, conseguiu transformar o Rio, implementando os empregos, intensificando a indústria petrolífera e melhorando globalmente a qualidade de vida.

Citou ainda sua incessante luta contra a corrupção e de sua fé em Deus. Neste momento, tive a impressão de ter sido Deus apresentado como seu cabo eleitoral, donde me leva a ratificar a opinião acima de que o limite da cara de pau, hoje em dia, é o inferno.

Faltou apenas o famoso “Deus é testemunha” quando afirmava veemente a sua eterna luta contra a corrupção. Apesar da opinião de alguns que, se rasparem a cara dele, sai pó de serra, uma coisa, ninguém pode negar: a luta dele contra a corrupção teve um diferencial ímpar.

“Nunca antes neste país”, ninguém, em sua luta implacável contra a corrupção, diante das denúncias contra si mesmo, se impôs greve de fome! E o mérito do referido cidadão de face amadeirada não parou por ai! Tamanha foi a sua responsabilidade que, ao contrário dos “grevistas famintos” de outros lugares, como Cuba por exemplo, a tal greve de fome foi monitorada por médicos.

Suspeito fortemente que além de ser supervisionada pelos médicos e pela imprensa, também foi monitorada por nutricionistas, haja vista, após 11 dias sem comer, nem parecia.

E ainda assim, em mais um exemplo de responsabilidade, internou-se no hospital Quinta D´Or para averiguar as possíveis avarias não detectadas pelo público em geral, zelando obviamente, pelo seu “santo corpo”.

Ora, não é qualquer corrupto que impõe a si mesmo uma greve de fome para combater as denúncias de corrupção...

Foi acusado também de nepotismo, mas é despeito! É uma família muito unida! Adotaram várias crianças, que são muito bem cuidadas. Faz parte da educação religiosa e da fé sincera em Deus... E se a pessoa não confia na família, vai confiar em quem?

Por falar em confiar em família, este partido também é abrilhantado pela figura excelentíssima de Dr. Inocêncio de Oliveira. Este nosso conterrâneo começa a ser inocente no nome.

E na família de Inocêncio tem outras pessoas, mais inocentes ainda, que acreditam nele. Um caso deste, era um contemporâneo meu de faculdade, que formava-se um ano antes de mim. Por acaso, exatamente em ano de eleição, no qual Inocêncio se candidatava mais uma vez.

Inocêncio, num destes atos de benevolência que acometem os candidatos a cada 4 ou 5 anos, se ofereceu para pagar a festa de formatura para a turma toda. Em troca apenas, a turma daria o nome dele, Inocêncio de Oliveira, gravado para todo o sempre, na placa de formatura, junto a foto formandos. Aquela que fica nas universidades...

A despeito das convulsões dos poucos esquerdistas, a turma aceitou com entusiasmo o pagamento. Inocêncio pagou, de antemão a placa, que até hoje está lá com seu nome. A eleição foi em outubro e a formatura em dezembro.

Inocêncio, inocentemente, esqueceu da festa.

A inocência do pobre familiar era um pouco maior. Diante das cobranças da turma inteira, ele esperava que Inocêncio honrasse a palavra, pelo menos com a família. “Afinal, todos eram médicos”. E na época, isso ainda dizia alguma coisa.

Contrariando Chico Buarque, quando dizia “está provado, quem espera nunca alcança”, o Inocêncio, lembrado na última hora, apareceu na festa, para cumprimentar os formandos e tomar uísque.

Voltando ao presente de Inocêncio, ele também discursava fervorosamente pela honestidade, família e dedicação ao povo.

Na ocasião, lembrei das palavras de minha mãe que diz sabiamente “é melhor escutar isso do que ser surdo”. Considerando que a campanha está apenas na largada, e ainda tem o ano todo escutando isso, pelo menos esta alegria eu posso ter no meu coração: eu não sou surda.

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