sexta-feira, julho 02, 2010

O CÉU QUE NOS PROTEJE

O céu que nos proteje

por: hermengarda cavalcanti - muito mais rodrigues que cavalcanti

Há dias, temos assistido no noticiário as tragédias do Rio de Janeiro. O céu está despencando. Do outro lado das Américas, nos Andes, a terra está se abrindo. Acreditam que o fim do mundo está próximo.

Mas até o fim do mundo é um processo.

A grande maravilha da nossa cidade maravilhosa é a geografia, única e linda. As montanhas, oras cobertas pela floresta, oras com encostas desnudas, encontram o mar salpicado de ilhas.

E na construção original, a geografia tinha suas soluções. A floresta filtrava a água e segurava as encostas, ou então era pedra. E a água infiltrada, escorria formando rios, córregos e cachoeiras. Desaguavam em lagoas ou direto, no mar.

Ainda na época do império, a colonização substituiu a floresta por plantação de café. Dom Pedro II reflorestou. Com o seguimento da urbanização, rios foram aterrados ou canalizados, morros foram usados para fazer aterros e grande parte do solo foi coberta de asfalto, cimento, calçada e prédios.

O lindo aterro do Flamengo por exemplo, usou mais de um morro inteiro para cobrir o mar, que chegava na Glória. Ainda tem construções de ferro, da época que o mar beijava a Glória.

Com a super-população, chega ao Rio uma grande massa de pessoas sobrevivente da seca, sub-empregadas. Quem é sub-empregado, é mal pago. Quem é mal pago não tem dinheiro para ter dignidade.

Junto com a dignidade, vai-se desde o acesso a educação e saúde até as estruturas da casa e esgotamento. Mais uma vez, lá vão-se os morros que sobraram, apinhados de estruturas frágeis, chamadas de casas, puxando água daqui, gato de energia dali.

E nestas situações, habitam a maior parte dos habitantes das grandes cidades.

As grandes favelas hoje são bairros, como a Rocinha. E nos morros onde a gente acha que não se equilibra nada, tem até prédios, com alicerces duvidosos. A bem da verdade, todos os alicerces destes cidadãos são duvidosos.

A segurança e a família avassalada pelo tráfico. O transporte coletivo é complementado pela informalidade. Só a informalidade sobe o morro. E além de informal, a educação é sazonal. Às vezes, nem chega a terminar uma estação. A saúde é suficiente apenas para mantê-los vivos. Afinal: precisa deles.

A cidade precisa do trabalho barato. Hoje, quase todo mundo ganha mal. Se uns ganham menos que outros, isso é a lei da selva, inclusive da selva de pedra. Mas mesmo ganhando pouco, compra-se.

Os ambulantes movem uma parte grandiosa da economia, vendendo barato o furto e o contrabando. Sendo sincero, os grandes centros de compra são exatamente aqueles onde se vendem produtos falsificados, imitações e importações de trabalho semi (?)-escravo.

Dessa forma, fica cada vez mais difícil exigir dos nossos administradores o que não se propõe nem pra si mesmo. Até porque, vai ter que se pagar mais por isso. Mais imposto. E como não se usa mesmo o dinheiro dos impostos, também vamos deixando de usar a dignidade.

Um belo dia, cai a chuva do mundo todo. Muito rápido. Em questões de horas, pra ser mais preciso. Por falar em preciso, a tecnologia da previsão de tempo não tinha radares o suficiente para ter precisão. Pra ser mais preciso ainda, eles pegam carona num satélite norte-americano. E quando os donos estão usando, ficamos imprecisos e desavisados.

Existem verbas destinadas para estes problemas causados pelas “forças da natureza” no Ministério do Interior. Tanto para projetos e planejamentos, como para obras emergenciais.

Na emergência das chuvas de São Paulo, 9% destas verbas foram destinadas. E o Rio recebeu menos de 1%, apesar do ano novo ter rompido junto com barrancos. Em contra-partida, quase 40% delas foram para a Bahia, porque lá, o ministro do referido ministério e atualmente candidato, tinha projetos.

E pra onde tem projetos é que o dinheiro vai. Sobretudo para os projetos eleitorais, como se vê. Na prática, estes são os projetos que mais conseguem verbas, tanto as verbas emergenciais quanto as de planejamento.

A nossa imprensa sensacionalista divulga matérias longas em horários nobres sobre as escavações, o desespero dos familiares. Enquanto as matérias são curtas sobre o desvio de verbas do ministério, a situação de Arruda e as multas de Lula por antecipação de campanha.

Daqui há 5 anos, as famílias estarão ainda pagando o preço da indignidade e do desamparo social, mas a imprensa já estará se alimentando de novas tragédias, financiadas pela industria da miséria, que por sua vez, financiaram novos candidatos.

A indústria da seca, da inundação, da miséria é a mais promissora do país. Alimenta uma fonte inesgotável de projetos inconclusos e irregulares, que são, antes de tudo, financiamento de candidatos com novos projetos de fachadas, que tanto alegram o coração dos brasileiros.

Assim como a copa e as olimpíadas, que serão grandes motivos, de caráter internacional, para arrebanhar votos e verbas para reconstrução do Rio, nas mesmas condições de antes. Pra que mudar?

E assim nos manteremos até que todas as cidades sejam um aterro de lixão: simbólico ou não. Ou então, o céu desabe de vez, a terra se abra e enfim, o mundo se acabe.

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