sexta-feira, julho 02, 2010

MULHER MARAVILHA

MULHER MARAVILHA

por: herme

Eu nasci numa situação familiar muito confortável: muitos tios e poucos sobrinhos. Mas a situação geográfica não ajudava, porque eu morava longe de quase todos.

Então, tio Ruy dizia a tia Edna que eu ia gostar mais dele, que morava mais perto. Ledo engano, ninguém barra tia Edna! A própria “concorrência” reconhece tanto que indica.

Quando eu vim pra Recife, ela foi morar na Bahia. E lá ficou até os meus 27 anos. Durante todo este tempo, nasceram vários sobrinhos. Ainda morando longe, ela era a nossa tia querida, independente do credo.

Fisicamente distante, ela estava sempre perto. Conhece cada um, as preferências, os aniversários, as mal-criações, conta as traquinagens. E de tanto conhecer, ela comprava presente barato, e eram os preferidos.

Ela me deu, quando eu era muito pequena, um boneco de feira, maior que eu, que chamei de Fubi. Ganhei muitos brinquedos depois. Mas o que eu lembro até hoje era Fubi.

Lembro também dos peixinhos de chocolate com papel colorido. Ela também me dava umas sandálias de dedo pra eu descansar meus pés das botas ortopédicas. E me mostrava os próprios pés, para eu não ficar traumatizada com os meus.

Mas cada sobrinho tem várias histórias dela pra contar.

O colo dela sempre foi parte do parque de diversões de nosso imaginário infantil. Com certeza, deve ter alguma coisa astrológica naquele colo dela, porque a gente sente uma paz tão grande que parece que o universo está em paz... toda a via lacte está ali, em paz, naquele aconchego.

Todo mundo quer. De mim, a Gabriel, o sobrinho neto estreante. E ela me manda o recado provocativo: “tem gente no seu colo”. Eu faço beicinho, sou a primeira a chegar, tenho meus direitos. Mas é até pecado poupar os outros daquele colo querido!

Tudo nela é aconchegante. É só avisar e tem toalha limpa, a cama cheirosa e a mesa farta. Mesa farta, inclusive, é quase uma parte do corpo dela. Tudo ela prepara com cuidado, como se ela fizesse o sol nascer todo dia.

No ar se cria uma alegria. É a banana assada, o bolo diet, o cuscuz com leite de côco. Ai, aquele vatapá com camarão seco...

A influencia ambiental dela abrange a mãe, os cunhados, tios e primos, enteados, vizinhos, amigos dos sobrinhos, colegas de trabalho e até os funcionários. Todo mundo entende que tia Edna é uma fonte de amor.

Ela consegue ser leve e segura, firme. Sempre consegue olhar todos os lados e avaliar, sem preconceitos, as razões de cada um. Tem um olhar para o mundo cheio de amor e de esperança.

Ela consegue sempre estar presente, mesmo na ausência, e mesmo a distância. Aliás, esta é a especialidade dela: está perto no longe.

Nelson Rodrigues dizia “toda unanimidade é burra”. Mas é porque, apesar dele ser Rodrigues, ele não teve tia Edna na família. Porque, além dos sobrinhos e netos, os irmãos são todos apaixonados por ela.

Ela é um verdadeiro acontecimento em forma de pessoa. Parece até mentira, mas ela existe. E como ela é assim, abundante, é preciso avisar pelas galáxias: hoje o planeta terra comemora 60 anos da presença da nossa mulher maravilha.

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