segunda-feira, agosto 18, 2008

OLÍMPICA!

por: Hermengarda Batista

Nesta época de olimpíadas, assistimos toda sorte e esportes e atletas na tevê. Ainda mais uma olimpíada cheia de recordes... Cada esporte tem seus padrões de beleza: os nadadores depilados e ombrudos, as maratonistas magérrimas, corredoras velocistas musculosíssimas, os jogadores de basquetes monstruosamente grandes, os ginastas totalmente definidos, e assim por diante.

As olimpíadas era um evento Grego, dedicado a Zeus, que acontecia em Olímpia, exclusiva aos homem – que participavam nus. As mulheres não poderiam participar dos eventos, exceto as corridas de bigas, que se realizavam fora do estádio.

Esta apologia do exercício evidenciava a importância deste na vida dos gregos. Afinal, a palavra dieta, hoje usada apenas com conotação de regime alimentar, a sua origem etmológica (grega) é mais abrangente.

A dieta era um “regime médico de alimentação e bebidas salutares, exercícios, aquietação, o ar que se respira, as paixões da alma, as evacuações e as retenções cotidianas”. Mas evidentemente, nem todo mundo seguia a dieta. Um bom exemplo é o famoso e incendiário imperador romano Nero. As paixões de sua alma furiosa nunca aquietaram seu espírito.

No seu corolário de insanidades, consta uma olímpíada, na qual Nero decidiu participar em seis modalidades – e obviamente não tinha um pingo de intimidade com nenhuma delas. Ainda assim, ganhou seis medalhas, descaradamente arranjadas (como as atuais copas do mundo).

Mas o maior descaramento foi numa competição de corrida a cavalo, onde ele proibiu a participação de qualquer adversário para garantir efetivamente sua vitória. Ninguém sabe se por ironia do destino ou justiça divina, no meio da prova, Nero caiu corpulentamente do cavalo. Mas, como todo mundo sabe que cara de pau não foi feita para dar cupim, ele recebeu a vitória mesmo sem cruzar a linha de chegada.

Felizmente, ao contrário das copas e das antigas olimpíadas, as atuais são mais justas e nos dão mais alegrias!
Hasta la vista...

sábado, agosto 16, 2008

quem me levar, eu torço

O futebol foi um esporte que nunca fez parte do nosso núcleo familiar. Meu pai não tem time e aproveita a copa para trabalhar sossegado. Mesmo assim, perto da minha mãe, ele é praticamente um torcedor fanático. Neste contexto, eu cresci incólume a esta paixão.
Meus amigos, às vezes, tinham algum time, mas era como uma citação sem qualquer efervescência. Durante muito tempo, a única coisa que eu entendia de futebol era quem era a bola.

Sempre tive a lucidez de entender que, com o montante de dinheiro que passou a rolar pelo futebol, ele deixou de ser um esporte para ser uma política como outra qualquer... e sempre achei muito aviltante tratar a paixão alheia com tanto mercantilismo – por isso, me compadecia destes apaixonados...

Na copa de 2002, meus colegas do plantão da sexta, Alexandre (santa) e Roberto(sport), tentaram incansávelmente me ensinar alguma coisa a respeito. Falavam, repetiam, contavam jogadas. Alexandre argumentava: "aprende, Dani, nem que seja pra você olhar as pernas dos jogadores". Toda semana, era a mesma arguição, com perguntas, repetidas, "explique com suas palavras". E eu olhava com aquele fastio desatento: "não adianta... vocês estão perdendo tempo... eu não vou aprender isso nunca..." ledo engano meu...

Na copa de 2006, graças a aposta que eu perdi, tive que assisti todos os jogos do Brasil. E Xande, um cara magnânimo, para minimizar meu tédio, passava o jogo me explicando as curiosidades das jogadas, dos lances históricos e dos craques (Garrincha, Nilton Santos, etc). Dizia que eu, como fisiatra, não podia deixar de ver estas coisas... assim, eu comecei a reconhecer algumas jogadas, o que me levou a achar Zidane o máximo...

Há um ano, comecei a conviver com vários torcedores apaixonados. É impressionante como crendice do torcedor se despe de qualquer raciocínio. Meu cunhado acha que um dos amigos dele não pode assistir o jogo no campo porque dá azar ao sport (time dele mesmo). Tiago usa sempre a mesma cueca pelo avesso pra dar sorte pro náutico (bem se vê que não funciona!). E minha irmã, apeser de ser uma torcedora por solidariedade, é convicta que o time que eu torcer, ganha.
Naquela convivência, comecei a sentir uma curiosidade incrível de ver o jogo. Sobretudo pelo relato de uma amiga: "é muito engraçado assisti a galera sofrendo por uma coisa tão insignificante". Meio mundo de gente se ofereceu para me levar, pela minha torcida infalível – porque um torcedor acredita na teoria do outro!

Então, fui ao jogo do sport x Ipatinga – que, obviamente, eu não fazia a mínima idéia de onde vinha. Ao chegar na casa dela, recebi logo a camisa do sport – já saí de lá fantasiada (porque a partir do momento que se nasce, já se tem o direito de ser cara de pau). Fomos eu, ela e Matheus.

A compra do ingresso já foi um espetáculo a parte. As pessoas corriam como enxame com cara de desespero a cada "colméia" que abria pra vender ingressos. Entramos no estádio, cheio de gente já. A torcida "jovem" amarela e vermelha era vibrante em luz, som e cor...

Subimos na arquibancada. Sentei estratégicamente do lado de Bel, para poder tirar minhas dúvidas. E antes de tudo, ela me perguntou: "o que é impedimento?" Tipo: chamada oral. Eu fui respondendo, com "minhas palavras". Ela me olha estarrecida: "Acertou! Passou pro estágio 2!".
Começou o primeiro tempo. A arquibancada ainda não estava cheia. Realmente é muito diferente da TV. É lindo. Toda jogada me interessava, independente do time. Muito embora o time sem torcida comovia meu coração. Bel percebeu minha empatia e me deu aquela enquadrada: "não vai torcer pelo Ipatinga não, heim Dani!"

Com o tempo, eu, que achava que o maior espetáculo ia ser o sofrimento e a alegria da platéia, já estava me levantando para ver as jogadas. Comecei a reconhecer as faltas antes de Bel me explicar. Ela ia comentando as regras, e eu assimilando tudo: praticamente uma futebóloga – dentro do meu contexto, obviamente...

"Dentro do meu contexto" significa que, dentre outras coisas, eu não entendia as piadas e nem sabia se sabiá era o nome do jogador ou um xingamento. E ainda morria de rir com um leão, totalmente disneilândico, que desfilava ao redor do campo provocando delírios na platéia...

A medida que a arquibancada encheu, o sentimentalismo dos corações adjacentes contagiaram o meu – na verdade, eu tenho muito talento para solidarizar-me com o sentimento alheio. É como bloco de carnaval: quanto mais alto toca, mais o coração bate forte.

Aí terminou o primeiro tempo, e nada de gol. Eu já comecei a ficar indignada porque eu estava torcendo e nada – ou seja, eu já estava acreditando na teoria de torcedora de minha irmã.
Primeiro gol! Eu pulei loucamente, me abracei com Bel! Com Matheus! Lindo! Estávamos confiantes quando os ipatinguenses, a quem eu, a estas alturas, já chamava de "inimigos", fizeram um gol. Sofrer eu nao sofri não, mas fiquei indignada!

Então a apreensão (beirando o sofrimento) já se expressava em todo meu corpo! Já fazia coreografia, batia palmas, fazia "ola"... Teve um pênalti! Eu reconheci (que orgulho de mim mesma!). Vai bater o penalti. Tive até taquicardia! Mais um gol!

Agora era eu a contar os minutos... e como o limite da cara de pau é o céu, me incoorporei à massa de técnicos da arquibancada e comecei a emitir opiniões – imagina... observei que, além dos técnicos, a arquibancada tem é cheia de filósofos... a platéia realmente tem seus encantos...
Mais um gol! De Ciro, em seu primeiro jogo! Que coisa linda! E pouco depois, o jogo terminou!

Saimos (olha eu ai, aderida!) vitoriosos... sport 3x1! Ai fui aprendendo que depois do jogo, se liga
o rádio para ver os comentários do jogo, depois, os depoimentos dos jogadores... Muita filosofia: é preciso blindar psicologicamente Ciro para não prejudicar sua "profissionalidade".

Enfim: comunico a todos que participei veemente de todos os momentos do jogo! E me diverti muito. Em tempos de paixães superficiais e ideologias apáticas, o futebol continua arrebentando corações... pena que é só esta camisa que se veste assim... mas eu confesso que continuo lucidamente sem time, e vou fundar um bloco: "quem me levar, eu torço!"