domingo, julho 04, 2010

Maradona e Michael Jackson: contra a lei da gravidade

Por: Hermengarda Rodrigues Cavalcanti

A Argentina também perdeu a copa!

Assim perdemos a oportunidade de ver Maradona correndo nu, conforme o aviso prévio dele. Muito embora houvesse muitas convicções que a nudez seria em vão, haja vista não seria possível visualizar o objeto máximo da nudez masculina, em virtude das condições da barriga da referida figura polêmica.

Aqui no Brasil, não conhecia ninguém, homem ou mulher, que quisesse ver tal cena. No entanto, a despeito da barriga, do pó, das declarações, do “layout” e das posturas, o técnico argentino é verdadeiramente idolatrado em seu país.

Além de ter uma estátua de Maradona, ainda há uma igreja, cujo pódio religioso é ocupado pelo próprio. De forma que, em caso dele correr nu, ao invés de loucura ou atentado ao pudor, seria um nu, mais que histórico, seria um nu sagrado.

Anteriormente, tínhamos heróis e mártires. Na Argentina, além da estátua de Maradona, tem a estátua de San Martin, o libertador do Plata. Os heróis eram geralmente generais ou grandes guerreiros, como Che Guevara. E os mártires, líderes religiosos, geralmente assassinados pela causa, como Jesus e Gandhi.

As guerras mudaram hoje em dia. Os generais mandam a distância, dos soldados não resta quase nada e a população é totalmente massacrada. O mundo “politicamente correto” não pode aceitar tais coisas. Então, mudaram-se os heróis.

Hoje em dia, as “celebridades” buscam escandalizar as suas vidas pessoais para se manter em foco. Hugh Grant, por exemplo, ficou muito mais famoso depois de ter sido pego e preso por atentando ao pudor, com uma prostituta, que depois de presa, passou do anonimato para a fama, ainda que fugaz.

Para se manter em foco e nutrir o escândalo, nada melhor do que comportamentos deploráveis. Vamos então a outro herói, este mundial, que tem estátua até no Rio de Janeiro: Michael Jackson.

Iniciou nos Jackson Five com os irmãos, anunciou, junto com a irmã, que era abusado pelo pai desde criança. Começou carreira “solo”. E no auge do sucesso, anunciou ter vitiligo. Mas era um vitiligo tão célebre que foi o único caso que tomou o corpo todo, inclusive os cabelos e o DNA.

O DNA também, haja vista os 3 filhos, de barriga de aluguel, são os 3 brancos e com nomes totalmente surreais. Eu custei a acreditar que alguém pusesse no filho o nome de Prince Michael. Os outros dois, também são brancos até no nome: Blanket e Paris.

E um deles inclusive, pegou o vitiligo do DNA do pai.

Sentindo-se o próprio Peter Pan, morava numa mansão chamada “terra do nunca”, onde, por coincidência, foi acusado de pedofilia, processado e não foi condenado – isso não é privilégio só nosso. Ricos não podem ser presos, são apenas excêntricos e tem problemas de família!

Aos 50 anos, ele era um ser híbrido, com um nariz irrespirável, os cabelos inegavelmente pretos e lisos, praticamente um avatar branco. Segundo os que o viram de perto, não andava, deslizava, como se não estivesse subordinado à lei da gravidade.

Apesar de milionário, conseguiu falir. E apesar de falido, vivia com tanto luxo que tinha um médico particular, tão bem remunerado que participou do “evento” de sua morte. Foi uma espécie de suicídio aos 50 anos de alguém que não aceitava ser negro nem ficar velho.

Mesmo sabendo que seria cassado profissionalmente, o médico de Jackson, depois de tudo o que assistiu na vida, confiou na verdade absoluta que os muito ricos são inimputáveis. E até agora, só pode se concluir que ele teve razão.

Depois de morto, fez mais sucesso que em toda a sua vida. Dois dias depois de sua morte, já tinha sua biografia traduzida em português para vender em todas as livrarias. Com um mês de sua morte, ele teria pago as dívidas e estaria mais rico que em toda a sua vida.

Um ano depois de sua morte, inauguram-se estátuas e fazem tributo, apresentaram fragmentos do show que ele preparava antes de ser assassinado. Assassinado mesmo, claro! Qualquer outro mortal teria se suicidado ou morrido por overdose e dependência química.

Mas Jackson foi “impunemente assassinado”, como convém aos heróis.

Ontem, quando a Argentina perdeu da Alemanha, eu imaginei que soltaram os fogos que haviam sido comprados no otimismo do “hexa”. Mas ao longo do dia, pude observar que a alegria de ver a derrota da Argentina era mais intensa do que a alegria do Brasil ganhar do Chile.

Maradona monopolizou as conversas de todos os grupos. Todo mundo torcia contra ele, viram as caras dele em cada gol, citavam comentários com muito mais detalhes que os de Dunga.

Observa-se pois que a mídia promove idéias, que aspiramos como se fossem oxigênio. E passam então a fazer parte de nossa corrente sanguínea. Provando que leis constitucionais da mídia, assim com Michael Jackson, sobrepõe-se inclusive à lei da gravidade.

Nada mais no mundo é grave aos olhos da mídia.

sexta-feira, julho 02, 2010

Perdemos a Copa

por: hermengarda rodrigues, do fundo do coração

Eita! E agora? Agora o Brasil perdeu a copa! E tudo na nossa vida mudou.

A culpa foi do juiz, ladrão como todo juiz de futebol. E este era oriental, tinha os olhos fechados, é que não via nada! Foi o frio. Um choque térmico retardado! A culpa foi da FIFA, que fez a copa na África. Aquele lugar tem muita coisa estranha!

A culpa foi de Lula, que cheio de pecados, deu a bênção à seleção, antes da viagem. E do cara que machucou Élano. Também tem outra coisa: aqueles jogadores holandeses se jogavam no chão o tempo todo!

Agora vou falar: Dunga tem mais culpa do que tudo nesta vida. Pra começar, ele é culpado de ser tão chato. E esta história de não deixar os treinos públicos, ninguém nem sabia o que ele estava fazendo! Ai, é óbvio, ele é culpado de não ter ouvido a opinião do público.

Já começou culpado de não ter convocado o Ganso e o Neymar. Uma das culpas maiores de Dunga foi não ter convocado os Ronaldos. E os Ronaldos também são culpados, de terem engordado. Desde a copa passa, por falar nisso. Onde o Brasil também não ganhou por causa de Zidane.

E por falar em Zidane, o jornal nacional, da globo, já notificou, que a culpa é dos carecas. É mais uma copa que o Brasil perde por causa dos carecas. A legião de “repórteres” que, na falta de assunto, entrevistaram até os filhotes de leão, são culpados de não mostrarem o que realmente estava acontecendo com nosso jogadores por causa da incompetência de Dunga.

O certo é que Dunga vai passar umas seis ou sete encarnações ardendo no fogo do inferno, reencarnando como réptil, para expiar todas as culpas desta copa.

Independente disso tudo, é claro que também vai rolar umas culpazinhas para Maradona. Não é possível que ele não tenha culpa nenhuma nisso! Ele deve ter feito alguma mandinga argentina, e mandinga argentina deve ser a pior da América Latina.

Agora eu quero saber, da população brasileira, quem vai ser responsabilizar pela zona que virou a lei da “ficha limpa”? Porque daqui há pouco, até Barrabás ressuscita e se candidata com a ficha limpa, para alguma coisa aqui no Brasil.

Ou talvez os pastores da igreja de Kaka...

SAO PEDRO, CHAVES E CHUVAS

por: hermengarda rodrigues cavalcanti

Hoje é o dia de são Pedro, o último santo comemorado no ciclo das festas juninas, que são juninas mas começam em março, com são José. São Pedro é o santo padroeiro dos pescadores, por ser pescador e guarda a chave dos céus, pra quem não sabe, o céu deve ter uma chave.

E pensando na chave, se reza pra são Pedro pedindo, além de chuva, casa.

Não se sabe bem o que aconteceu. Alguns alegam que há um fenômeno de desabamento progressivo do céu, que começou no sudeste. Outros afirmam categóricos que São Pedro está com ciúmes de Dunga e seus 23 companheiros. Ciúmes ou continuidade, o fato é que o mês de junho, em Pernambuco e Alagoas, teve tanta chuva que há quem diga que viu Noé manobrando a arca.

Desta vez, foi a maior precipitação dos últimos 40 anos. Choveu tanto que o fluxo do rio Una aumentou mais de 20 vezes. No entanto, mesmo sem tanta chuva, todo ano é a mesma coisa. Dá até pra reeditar as imagens do ano anterior nos telejornais de agora!

Todo ano é assim. Os barrancos caem, os morros desabam, rios enchem e pontes, já em ruínas, terminam de ruir. A sociedade se organiza para mandar agasalhos e mantimentos para os desabrigados, abrigados em igrejas e prédios públicos ainda de pé.

Este ano ainda tem o alento da copa, para os que já perderam tudo, alegrarem seu coração na esperança de ganhar a copa. Ainda que isso não mude em muito, para não dizer em nada, a realidade dos fatos.

Depois das chuvas pararem, novamente, vão juntar o quase nada que restou com o pouco que foi doado, para começar do pouco ou quase nada. E neste pouco ou quase nada, não cabe a memória. A memória deve ser a primeira a morrer nas tragédias. Até porque, se todo mundo se lembrasse de tudo, ao fim de 4 anos, no começo das primeiras chuvas, todo mundo se suicidava.

E esquecidos do passado, remoto e recente, vão juntar os trapinhos e procurar algum lugar. Pra quem não tem nada, pode ser qualquer lugar: o que restou, o que sobrou de alguém, uma invasão, uma encosta, a beira de rio.

Mais uma vez, pela falta de tudo, inclusive lixo, vão se esquecer de novo e começar a jogar as coisas no rio, nas ruas, nos bueiros. Alguns vão comercializar as tampas de ferro dos bueiros. Vão furar um poço, fazer uma vala, que deságua à céu aberto, e fazer “um gato” de gás e energia de alguém.

Uns acham que é tirar de quem tem para que não tem nada. Outros acham que o que é do governo não tem dono. E outros, acham que roubar o governo não tem problema porque la só tem ladrão. Tirar de quem tem para que não tem nada e burlar o governo, já que só tem ladrão mesmo lá.

Porque estão esquecidos também que o governo é o Estado, que representa, antes de tudo, cada um do “todos nós”.

Quando chover de novo, todos já estarão, além bem esquecidos, localizados. Mas vão ter motivos sólidos e líquidos para se lembrar de tudo. Cada um na sua esfera.

Os ricos se lembram dos engarrafamentos, das reuniões perdidas, das safras estragadas, dos carregamentos deteriorados, dos funcionários impedidos de chegar, as propriedades rurais avariadas, enfim, das oportunidades perdidas e dos prejuízos econômicos.

Como diria minha amiga Taíza, ninguém nunca ouviu falar de desabrigado do Morumbi ou de Ipanema.

A classe média, além dos engarrafamentos, vai se lembrar dos danos nos carros, do elevador que parou, das quedas de luz que queimaram eletrodomésticos, dos descontos do trabalho pelo atraso para bater o ponto. Depois das chuvas, vão continuar “acariciando” os pneus dos carros nos buracos herdados das chuvas.

E a base da pirâmide, os pobres, sobretudo os miseráveis, vão perder suas casas, chorar seus mortos, se acidentar nos escombros, desenterrar seus pertences, contabilizar seus restos, se contaminar nas cheias, ser socorrido nos hospitais lotados e mal equipados, ser quantificado nos dados e, por fim, comparecer as urnas. E começar tudo de novo.

cobertura da copa

A copa mobilizou toda a imprensa meses antes de começar. Semanas antes do seu início, houve o deslocamento de uma legião de jornalistas, digo, repórteres, para fazer a cobertura da copa. Observa-se uma inegável superlotação de “repórteres”, de todos os tipos, além dos esportivos. Até Fátima Bernardes foi.

Há quem diga que tem mais repórter do que africano por metro quadrado.

Desta forma, sobram repórteres e faltam notícias. Assim, qualquer seleção é motivo para falar alguma coisa. Porém, da delegação brasileira, há menos notícias ainda. Então, culpam Dunga de discrição excessiva pela sua repulsa às tendências especulativas da imprensa.

Óbvio, para manter o horário nobre e todos os horários repletos de informações, nem sempre inéditas, tem que ter bastante especulação. E haja especulação. Contando, ainda com uma certa dose de imaginação.

Desta maneira, eu estou disponibilizando minha imaginação alada para proporcionar uma maior demanda de notícias para alegrar o coração dos brasileiros, que se contentam com isso.

Estou procurando uma emissora que me contrate. Solicito aos amigos que, por favor, repassem meu currículo de repórter sideral e ratifiquem minha imaginação fértil e cheia de asas – praticamente um querubim (aquele tipo de anjo que tem 3 pares de asas).

Eu vou como âncora e conto com a colaboração da minha equipe de repórteres, especialistas em copa, conforme demonstrado pelos comentários abaixo, para evidenciar o ditado que “quem herda não rouba”!

a vovozinha

- é, porque quando tinha jornal nacional, a gente sabia mais...

- e não tem mais jornal nacional não mamãe? (tia Rosa chocada, com medo que vovó estivesse louca)

- não... agora só tem a copa...


Sideral Mirim
- eita papai, fogos! o são João já começou foi?

- não, minha filha... é o jogo...

- que jogo?



ET colorido (
- e ai? Animado pra torcer hoje?

- o Brasil vai jogar contra quem?


A futebóloga oficial

- tem um tal de Elano ai, que só falta 4 gols para bater o Record de Ronaldo obeso mórbido.

- não é Elano não! É Luiz Fabiano...


o ser iluminado
- eu gosto quando o Brasil faz gol! Acho tão bonzinho... mas eu gosto que o outro faça também... é mais justo que todo mundo faça gol, pra ninguém ficar triste.

de mãe pra filha
- visse o jogo ontem foi, mãe?

- vi! Fui intimada né? Sabe quem tem estava lá? Zidane! Mostraram a delegação da França e ele estava lá! De terno preto! Tão bonito! Elegante! Só me lembrei de você...


Observe que a única coisa digna de nota no jogo inteiro pra ela foi Zidane!

Copa 2010

Enfim, galera, mais uma copa do mundo. E eu, a própria futebóloga, ainda não me pronunciei.

O Brasil parou novamente para assistir ao primeiro jogo da copa, como diria o filósofo, bastante decisivo para a vida de cada brasileiro. Após a vitoria, todos ficaremos mais ricos, mais saudáveis, e sobretudo, com motivos reais para ficarmos mais felizes.

Até o sol está ausente, desde domingo, aqui no centro do universo. Suspeito fortemente que esta ausência seja por causa da copa. Ele deve ter ficado se preparando, penteando os raios, dourando os amarelos, para o jogo de hoje. Mas preparou-se tanto que até agora não chegou.

Considerando o futebol como uma arte, eu o compararia ao movimento literário modernista, onde o Macunaíma futebolístico seria Adriano: um atleta com indiscutível sobrepeso, com hábitos saudáveis como o alcoolismo, bem acompanhado de “amigos” traficantes, com conduta honrável como bater na mulher que, além de todos os atributos, rompe contratos.

A despeito disso, não lhe sobram propostas milionárias de emprego.

Dá até pra fazer novela! Se for na globo, o protagonista é ele, se for na Record, algum amigo dele chefão do trafico, e se for da SBT, a noiva dele - com outra indumentária e outro “penteado”, obviamente!

Pra não esquecer o “fenômeno”, Ronaldo, finalmente reconheceram que um bom lugar pra ele é o banco. Preferência mesmo era uma caqueira – daquelas bem grandes. Quando o aposentarem definitivamente, e ele parar de jogar de vez, vai inflar como um balão. Mas este, eu sei, nunca vai voar...

São verdadeiros exemplos para os filhos deste país.

Até o próprio Kaká, que é protestante e supostamente casou virgem, reza pela cartilha dos pastores ladrões, que, pelo montante do crime, até preso foram.

Pela intensidade das informações sobre futebol em todos os telejornais e radio-jornais, eu já estou sabendo até que Luis Fabiano está há 4 gols de bater o record de Ronalducho.

Tem uma verdadeira legião de jornalista de todas as emissoras, incluindo Fátima Bernardes na África do Sul. Todos tentando flagrar quaisquer lapsos de momentos que Dunga, no afã de dar um pouco de profissionalismo àquelas entidades, tenta esconder.

Mas todo mundo sabe que profissionalismo e futebol não combinam.

Tudo é motivo para a insalubre ocupação da copa. Tem gente até propondo um “décimo-copa” para que o torcedor possa ter uma verba especifica para gastar com as necessidades da copa, e assim, aquecer (mais) o comércio.

O contato com a realidade é tanto que até o nosso presidente Lula, em sua lucidez, sentindo-se, talvez, a reencarnação de padre Cícero (quando convém, ele não só é nordestino como crer em Deus), chamou a seleção para abençoá-la!

Saí de casa hoje de manhã, e apesar do jogo só começar as 3h30, já tinha gente no ar. Todo mundo tentou mudar seu dia, para assistir os super-remunerados correndo atrás de uma bola elíptica, que permite ao acaso a participar da sua trajetória.

As preocupações são muitas. Se a seleção perder, realmente, tudo vai mudar na minha vida. Então, em meio a estas tantas preocupações, chego em casa e vejo um email que muito me revolta: a corrupção de menores desde a tenra idade!

Minha prima, aos dois meses, ainda nem sabe ao certo o próprio nome e já com uniforme de comparsa, ou, como diria o filósofo, "fantasiada de otária". E assim começa, mais uma lavagem cerebral!

Isso parece que nunca vai ter fim.

Inocência Surda

Por: hermengarda cavalcanti

Após a largada oficial da maratona eleitoral, constatei que o limite da cara de pau deixou de ser o céu. Agora, os limites conquistaram o inferno. A qualquer hora do dia, podemos assistir afirmações calorosas e textuais das coisas mais incríveis nas “propagandas eleitorais”.

Este nome “propaganda eleitoral”, já torna claro e evidente a mercantilização dos votos. As melhores campanhas são as que pagam aos melhores publicitários. E para isso, todos os tipos de “financiamento”, mais que bem vindos, são exaustivamente procurados.

Agora, em plena sessão da tarde, passam “chamadas”, mini-propagandas de todos os partidos. Não se respeita mais nem as crianças! E a copa, em sua função de desvio de atenções, tem favorecido bastante.

Lula, se sentindo, talvez, a reencarnação de padre Cícero, haja vista, ele ainda se diz nordestino, quando convém, solicitou a seleção que passasse em Brasília, para receber a bênção.

Quando a gente pensa que já viu tudo, assiste a propaganda do PR, o Partido da República. Resta saber a qual república eles se referem.

Garotinho dava seu depoimento, obviamente emocionado. Encontrou o Estado do Rio em ruínas. Mas, graças a sua dedicação, sua seriedade e sua honestidade, durante seu mandato, conseguiu transformar o Rio, implementando os empregos, intensificando a indústria petrolífera e melhorando globalmente a qualidade de vida.

Citou ainda sua incessante luta contra a corrupção e de sua fé em Deus. Neste momento, tive a impressão de ter sido Deus apresentado como seu cabo eleitoral, donde me leva a ratificar a opinião acima de que o limite da cara de pau, hoje em dia, é o inferno.

Faltou apenas o famoso “Deus é testemunha” quando afirmava veemente a sua eterna luta contra a corrupção. Apesar da opinião de alguns que, se rasparem a cara dele, sai pó de serra, uma coisa, ninguém pode negar: a luta dele contra a corrupção teve um diferencial ímpar.

“Nunca antes neste país”, ninguém, em sua luta implacável contra a corrupção, diante das denúncias contra si mesmo, se impôs greve de fome! E o mérito do referido cidadão de face amadeirada não parou por ai! Tamanha foi a sua responsabilidade que, ao contrário dos “grevistas famintos” de outros lugares, como Cuba por exemplo, a tal greve de fome foi monitorada por médicos.

Suspeito fortemente que além de ser supervisionada pelos médicos e pela imprensa, também foi monitorada por nutricionistas, haja vista, após 11 dias sem comer, nem parecia.

E ainda assim, em mais um exemplo de responsabilidade, internou-se no hospital Quinta D´Or para averiguar as possíveis avarias não detectadas pelo público em geral, zelando obviamente, pelo seu “santo corpo”.

Ora, não é qualquer corrupto que impõe a si mesmo uma greve de fome para combater as denúncias de corrupção...

Foi acusado também de nepotismo, mas é despeito! É uma família muito unida! Adotaram várias crianças, que são muito bem cuidadas. Faz parte da educação religiosa e da fé sincera em Deus... E se a pessoa não confia na família, vai confiar em quem?

Por falar em confiar em família, este partido também é abrilhantado pela figura excelentíssima de Dr. Inocêncio de Oliveira. Este nosso conterrâneo começa a ser inocente no nome.

E na família de Inocêncio tem outras pessoas, mais inocentes ainda, que acreditam nele. Um caso deste, era um contemporâneo meu de faculdade, que formava-se um ano antes de mim. Por acaso, exatamente em ano de eleição, no qual Inocêncio se candidatava mais uma vez.

Inocêncio, num destes atos de benevolência que acometem os candidatos a cada 4 ou 5 anos, se ofereceu para pagar a festa de formatura para a turma toda. Em troca apenas, a turma daria o nome dele, Inocêncio de Oliveira, gravado para todo o sempre, na placa de formatura, junto a foto formandos. Aquela que fica nas universidades...

A despeito das convulsões dos poucos esquerdistas, a turma aceitou com entusiasmo o pagamento. Inocêncio pagou, de antemão a placa, que até hoje está lá com seu nome. A eleição foi em outubro e a formatura em dezembro.

Inocêncio, inocentemente, esqueceu da festa.

A inocência do pobre familiar era um pouco maior. Diante das cobranças da turma inteira, ele esperava que Inocêncio honrasse a palavra, pelo menos com a família. “Afinal, todos eram médicos”. E na época, isso ainda dizia alguma coisa.

Contrariando Chico Buarque, quando dizia “está provado, quem espera nunca alcança”, o Inocêncio, lembrado na última hora, apareceu na festa, para cumprimentar os formandos e tomar uísque.

Voltando ao presente de Inocêncio, ele também discursava fervorosamente pela honestidade, família e dedicação ao povo.

Na ocasião, lembrei das palavras de minha mãe que diz sabiamente “é melhor escutar isso do que ser surdo”. Considerando que a campanha está apenas na largada, e ainda tem o ano todo escutando isso, pelo menos esta alegria eu posso ter no meu coração: eu não sou surda.

Para um Quilo de Pobre

Por: hermengarda mais Rodrigues que Cavalcanti

Na semana passada, abriram 470 vagas para contrato temporário de um ano, para terapeutas e enfermeiros no Hospital da Restauração. Este tipo de vínculo não dá garantias formais, nem direito a férias ou “décimo terceiro”. É feito através da famosa “seleção simplificada”, ou seja, avaliação de currículos.

Apesar da falta de direitos, os candidatos tinham o dever de ter especializações, pós-graduações, cursos de capacitações, mestrado e, se possível, doutorado.

Houve um amontoado de seres vivos em busca do tal emprego na quinta e na sexta feira. Relataram sobreviventes que permaneceram até às 20 horas no afã da entrega. A confusão foi tamanha que foi acionado o batalhão de choque para conter a multidão que se digladiava.

Na semana seguinte, estavam todos com a consciência intranqüila, especulando quais os critérios destas “seleções simplificadas” do Estado, cada dia mais usadas.

Este expediente de contratar temporariamente, sem direitos e com deveres, por seleção simplificada é muito prático, sobretudo para momentos “emergenciais”. Acontece que o Estado tem considerado nosso estado de guerra civil perpétua como uma emergência perene.

E haja contratos temporários.

Então, não tendo quadro fixo de funcionários, não há organização para recebê-los. E na hora de ser admitido, só se olham os salários. Ninguém se questiona como vai trabalhar nas enfermarias, contando apenas com as próprias mãos e a boa vontade. Isso para quem dispuser de ambos, obviamente.

No Hospital Otavio de Freitas, por exemplo, as fisioterapeutas não têm cadeiras para sentarem-se enquanto escrevem os procedimentos realizados nos pacientes.

Se considerarmos o detalhe do Hospital da Restauração ser o mais lotado de todos, já que é a principal referência de trauma do Estado, tememos que falte oxigênio para os terapeutas em serviço e para os pacientes em atendimento.

A remuneração seria R$1.770,00 para trabalhar em regime de plantão, o famoso “12/36”. Em outras palavras: segunda, quarta, sexta e domingo, terça, quinta e sábado, e assim indefinidamente até terminar o contrato. Dessa maneira, percebemos facilmente que todo final de semana, tem-se um plantão no sábado ou no domingo.

Salienta-se que, além do dia de plantão mudar toda semana, estes plantões são diurnos. Em outras palavras, a seleção é suspeita, as condições de trabalho são insalubres e a carga horária prejudica a rotina social, familiar e outros vínculos de trabalho.

Mas ainda tem mais um detalhe: no salário de R$1.770, 00, tem o “desconto” de 27,5% de imposto, retido, literalmente, na fonte pagadora. Então, os terapeutas especializados e pós-graduados receberão R$1.283,25, que os confere o salário de R$31,67 por hora.

Saímos da fila de seleção de currículo no sol quente do Hospital da Restauração e vamos fazer as unhas. Você entra num “salão de beleza”, é recepcionado por uma pessoa asseada, bem humorada e sorridente, que lhe convida a sentar-se em uma poltrona, geralmente branca, muito limpa.

Neste ambiente perfumado, escuta-se apenas temáticas efêmeras e amenidades. Caso não queira se pronunciar, você pode se resguardar e a ler, geralmente, assuntos sobre a ilha de caras, romances de estrelas e corpos deslumbrantes e bem fotografados de ambos os sexos.

Nos salões de referência do Estado, facilmente você paga 30 reais para fazer as unhas das mãos e dos pés. Se quiser cortar cabelo, fazer escova, hidratação, escova progressiva, tingir, dar luzes e coisas afins, você gasta, numa tarde, o equivalente ao pagamento de um dia de plantão do referido terapeuta, acima citado.

Tudo isso, sem insalubridade, sem mau cheiro, sem se confrontar, auditiva e visualmente, com toda sorte de tragédias humanas, sem se expor a marginais, sem riscos e sem a responsabilidade. E sem os gastos com formação, educação e atualização.

E como ninguém pede nota fiscal ou qualquer recibo, e se pedir, a dona, ainda muito sorridente, vai lhe dar uma desculpa qualquer para demovê-lo. Claro, se a dona estiver. Porque recibo, em salão, é uma coisa que só a dona ou o dono pode emitir. Mesmo que tenha maquininha de cartão de crédito. Eu já fiz o teste.

Conclui-se que, enquanto o plantão do terapeuta é descontado “na fonte”, o lucro do salão, além de líquido, é facilmente sonegável.

Mas os “clientes” do hospital são pobres, às vezes, miseráveis. Mesmo quando sabem ler, desconhecem os próprios direitos. Estão acostumados a toda sorte (ou todo azar) de maus tratos da vida. Muitos já chegam sequelados. A imensa maioria nunca se cuidou – por qualquer que sejam as razões. E ainda têm os bandidos....

O lema então passa a ser “o Estado finge que paga, e a gente finge que trabalha”. E neste discurso, nos despedimos da civilidade, da condição de humanos. Dentro em breve, serão rebanhos de pacientes. E os terapeutas serão substituídos por alguma máquina que faça “algo parecido”, tipo “ordenhadeiras”.

A prescrição será quantificada: “um quilo de fisioterapia para cada quilo de pobre”, até que a morte os separe. Já que a distância, em vida, nem Deus sabe qual é.

Escrevo porque preciso

escrevo porque preciso

por: Herme Rodrigues

Não escrevo porque eu quero: escrevo porque preciso. Não canto por outro motivo que não seja libertar-me do lugar comum, das palavras atadas a algum sentido real, sempre real, sempre liberal, sempre viável.

Eu gosto mesmo das coisas que não fazem sentido, ou pelo menos, não o sentido habitual das coisas serem e se organizarem, em função de algo pré-estabelecido.

O que me seduz é o inesperado, o não planejado, o casual. Aquilo que a gente sente porque, quando vê, já está sentindo.

A surpresa de me ver invadida por um sentimento bom é o que me faz querer viver, todos os dias, e acordar livre.

E tento sugar, reter entre os dedos, a magia que todo mundo tenta sufocar dentro de si para, assim, respeitar todos os limites civilizados de ser uma pessoa, comum, habitual, de obedecer as regras do bem-viver.

A magia que eu, nem querendo, não consigo sufocar dentro de mim, me fez viver bem melhor.

Histeria ou Talento?

CINE-PE 2010: HISTERIA OU TALENTO?

por: hermengarda cavalcanti

O cinePE sempre foi um grande atrativo pra mim. Eram vários filmes, bons diretores, conhecidos ou não. A gente chegava no teatro, escolhia o filme que ia assistir, todos no mesmo lugar. Curtas e longas, de vários tipos, inclusive animações.

Eu geralmente assistia a todos, com ou sem companhia, tendo ou não com quem comentar. Até os documentários, que é um gênero que eu não gosto muito, eu assistia.

Os diretores adoravam a platéia animada e lotada, que tinha o hábito de bater palmas para os melhores filmes. Bater palmas para filme é estranho, mas se você considerar que estavam ali os atores e diretores, era um prestigio imenso.

Eu gosto de trocar de mundo no cinema. Entro ali e respiro aquela atmosfera. Passava a semana inteira envolvida no evento. Eu saia da realidade de um filme para realidade do outro. E até o festival acabar, eu tinha conhecido vários mundos.

No entanto, com o passar do tempo isso foi mudando. Muitos pararam de vir porque queriam exibir seus filmes no “circuitão”, e como a platéia do festival é muito grande, toda concentrada no mesmo lugar, eles, com muita visão de futuro, achavam que diminuiria a bilheteria.

Quando voltei a morar em Recife, preparei meu coração para o novo festival. Ledo engano: tudo diferente. É que com o advento do cinema digital, qualquer pessoa um pouco mais ousada confunde histeria com talento e faz um filme.

E assim foram nos anos seguintes. Mas este ano, mais uma vez, apesar do coração desconfiado, eu fui de novo ao cinePE. No primeiro dia do festival, ia ter a apresentação do “Bem amado”, por Guel Arraes.

E então a platéia estava lotada. Chegamos cedo e nos sentamos para assistir Graça Arraes, como que saída de algum filme de animação, apresentar, com os cabelos laranja, muito parecida com o “penteado” do pica-pau, os sapatos de plataforma alto como Margarida (do pato Donald) e as roupas acompanhando a natureza do sapato.

No primeiro dia, eu cheguei há tempo de assistir a apresentação dos diretores. A primeira, de Santa Catarina, apresentou o filme “Tanto”, que ela dedicava aos seus próprios pais, onde uma mulher matava o marido. Depois teve um filme nordestino muito bom, “La trás da serra”.

O diretor do “Bailão” falou bastante emocionado: “Um filme sobre sobreviventes! Sobreviventes da caretice, da ditadura de direita e de esquerda”. Eu, e todo mundo, achamos que era um filme político e inovador, que ia avaliar a ditadura de direita e de esquerda. Ledo engano.

O filme era bom e realmente inovador. Eram depoimentos e relatos de homossexuais sexagenários, falando sobre suas vidas, as próprias dificuldades internas de enfrentar a sociedade e as estratégias que usaram. Muito bom. Mas, diante do depoimento do diretor a respeito do próprio filme, eu me pergunto se foi ele mesmo quem fez o filme, ou mesmo se chegou a assistí-lo.

Depois dele, teve uma comédia paradoxalmente chamada “o filme mais violento do mundo”, onde um produtor ensinava o cara como fazer um filme para ter muita bilheteria. E depois, o filme mais deliberadamente paradoxal, “Recife frio”. Conta a história de quando Recife súbita e inexplicavelmente congelou, chegando a ter pinguins. Terminou com a foto do Capibaribe congelado. Maravilhoso.

A segunda foi um dia que me fez lembrar os velhos tempos, e me fez querer ir novamente. Mas logo na terça, já fui conduzida à nova realidade. Apesar de “O homem mau dorme bem” ter sido ótimo em tudo, o “Cinema de guerrilha” adormeceu até aos atores – que eu vi, eles estavam ao lado!

Mas, no dia seguinte, talvez pela má qualidade de sono, revoltaram-se com os comentários da crítica, que foram muito mais leves que os meus. Referiram preconceito porque era um filme feito por suburbanos.

Na realidade, este foi mais um episódio onde confundiram histeria com talendo. Passaram mais da metade do filme filmando depoimentos que, a pretexto de serem espontâneos, foram incoerentes, repetitivos e melodramáticos, isso tudo, dentro de uma Kombi, que além de se movimentar, era escura. Todo mundo ficou tonto: auditiva e visualmente.

Em seguida, filmavam as oficinas de cinema deles, cheio de histéricos com idéias exibicionistas, ainda acharam tempo para fazer uma cena com apelo sexual. Faltando 30% do tempo para terminar o suplicio, eu tinha convicção de que eles não tinham mais o que falar.

Então, roubaram a câmera deles. Suspeito que o roubo foi um sinal dos céus para que eles parassem de se acharem “cineastros incondicionais”. Mas a falta de talento e coerência era tanta que permaneceram mais 30% do tempo falando do roubo da câmera.

Ainda insistir em ir outros dias. Ainda cheguei a ver um filme cheio de globais e efeitos especiais ruins, igualmente péssimo de forma geral. E ao fim do festival, eu já não tinha mais “disponibilidade interna”. Fiquei com a impressão de que, além de ousadia, é preciso não ter senso, desde senso crítico até senso de humor, para fazer certos filmes.

Apesar de não estar concorrendo, a estrela do festival seria o “Bem amado”, transformado em filme por Guel Arraes, que não dá ponto sem nó! Só escolhe roteiro consagrado pelo público e só filma com elenco global, haja vista consegue patrocínio de toda a coletividade. Até dos inimigos políticos de sua família contribuem. Porque em política, você é hoje, e amanhã, nem Deus se habilita a saber.

Guel Arraes, tio do atual governador, foi homenageado. E falou aos repórteres: “eu filmei o bem amado... é uma sátira política. Mas como a gente é amigo da política hoje, não queria falar mal de político. Ai tentei fazer o bem amado saindo desta parte”.

Pensei logo: o que a pessoa não faz por patrocínio... isso deve ter ficado uma merda. Mas não: ficou bom. Até porque para ficar ruim, tinha que ter deturpado muito a obra de Dias Gomes.

Eu cheguei ao mundo depois da novela, mas assisti a mini-série. Pra quem tem a visão do “Bem amado” anterior, este realmente está bem aquém. Mas não dava para fazer num filme, os requintes da mini-série, menos ainda da novela.

Mas a obra, depois de tanto tempo, é realmente surpreendentemente atual. Nanine, nosso querido pernambucano, deu vida ao prefeito corrupto, que corrompia até o vocabulário. Tentava desesperadamente inaugurar o cemitério, sua única obra em todo o governo, onde as covas eram tão pequenas que o defunto tinha que ir em posição fetal.

Depois de mais de 30 anos depois, a nossa vida política continua exatamente a mesma e continua mau freqüentada. Nossos governantes continuam falando muito sem dizer nada, sem se privarem de atentados clássicos à língua portuguesa, dizendo muita coisa que não se escreve, e escrevendo muita coisa que não sai do papel.

E continuam fazendo obras, que, por motivos “pessoais”, continuam deixando a população sem ter nem onde “cair morto”, sem “campo santo” para seus estados de “defuntice compulsória” após as “agravidades da vida”, como diria Odorico Paraguaçu.

Imposto ou Facultativo?

imposto ou facultativo?

por: hermengarda cavalcanti

Mulher foi assaltada dentro da delegacia no interior de São Paulo.

A vítima foi dar queixa de clonagem de celular e, enquanto estava dentro da delegacia, entrou um homem, portador de imensa cara de pau, e pediu a bolsa. Sentindo-se resguardada por estar dentro de uma delegacia, praticamente se degladiou com o ladrão.

Na impossibilidade de domá-lo, já que, por mais que parecesse, não era um desenho animado, ela jogou a bolsa para dentro do balcão de atendimento, ao lado de outros funcionários da delegacia, que fungiram continuar não vendo nada.

O ladrão pulou o balcão, pegou a bolsa ao lado de outros funcionários na delegacia, incluindo o escrivão – cuja tarefa é apenas escrever, creio eu. E saltou o balcão novamente. Acho que estas manobras devem ter sido difíceis de não serem vistas, mas ninguém viu...

Depois do segundo salto do balcão, a vítima, já no faroeste, pendura-se no assaltante tentando impedir que leve sua bolsa com 13 mil reais dentro. Então, o ladrão fala para seu comparsa, também dentro da delegacia, mas cujo cargo ainda não foi informado: “atira nela”.

Sem dúvida alguma de que seria morta na delegacia, e, diante do andar da carruagem, seu corpo baleado iria para o velho oeste, ela solta a bolsa. Poucos minutos depois, deixaram a bolsa nas imediações de onde deveria ser a delegacia, apenas sem o dinheiro.

O delegado, que não quis ser identificado, confirma a história tal qual a vítima, só não disse qual foi o seu percentual dos 13 mil. O escrivão disse que não interviu porque achou que era uma briga de marido e mulher.

E como lá não era uma delegacia da mulher (talvez fosse delegacia do homem), provavelmente, se o cara quisesse matar a mulher de tiro quando disse “atira nela”, ele estava mais do que acobertado. Depois, o fantasma feminino que fosse dar queixa em outra delegacia mais espcializada.

Além do que, ele é escrivão, e sua função é só escrever...

E a mulher relata ao fim que pensou: “vou reclamar a quem que fui roubada dentro de uma delegacia? Ao bispo?”

Esta situação é emblemática de nossa realidade. Agora em abril pagamos, todos revoltados, 27,5% do nosso salário de imposto. Não conheço ninguém feliz de pagar seus impostos! Até conheço quem fique feliz de votar. Mas de pagar impostos, nunca vi!

Todo mundo tem que pagar IPVA. Andamos em vias públicas, que, ainda dentro da cidade, são simulações bastante próximas da cratera lunar. E assim, elas, mais que o tempo, esculhambam rapidamente nossos carros, antes mesmo que terminemos suas longas prestações.

Abastecemos em postos de combustível adulterado, a despeito da bandeira que ostentem. Todo e qualquer posto precisa da “autorização das autoridades” para funcionar. Para funcionar! Mas fiscalizar já é outra coisa! Só fazem isso quando precisam arrecadar verbas extras...

A saúde pública está cada dia mais chocante!

Escutei um desabafo chocante de um amigo plantonista sobre a dificuldade chegar ao paciente a ser examinado pela quantidade de macas no caminho. Quando chegou, o prontuário estava perdido.

E citou, suado e tenso, a situação nada hipotética da família implorando ao médico que passava no local que desse o atestado de óbito do seu morto, cujo prontuário também houvera sido perdido. E o gestor do hospital alegando que os médicos estão enrolando o trabalho...

Seria melhor falar assim: enrolados no trabalho.

Enquanto isso, outro gestor, o governador, inaugura, em ano de campanha, hospitais de alta complexidade, que, pela falta de médico (um pequeno detalhe para o funcionamento do hospital) tem tratado apenas entorses.

Pagamos para ter manutenção da cidade.

O policiamento, já foi devidamente citado acima. O saneamento torna-se literalmente evidente após uma noite de chuva pelas ruas. E dependo da chuva, torna-se evidente pelos morros que vem abaixo.

Estes morros, mesmo condenados por técnicos, a exemplo do morro do bumba, na falta de um programa habitacional eficiente, continuam a ser invadidos pela população totalmente alheia a estas informações.

E continuam a ser estabilizados pelas “autoridades”, totalmente conscientes destas informações. Oficializam as favelas com muros de arrimo, com capas de plástico para evitar a infiltração da água da chuva e premiados com linhas de ônibus para os cidadãos que “optam” por viverem empoleirados.

É obvio que o transporte publico não sobe exatamente, haja vista pode precipitar o desabamento. Mas passa lá perto. E a função do transporte público é exatamente passar perto, passar cheio, passar atrasado, passar mal passado, enfim...

E os impostos para a educação são formalmente utilizados de forma a que a população continue ignorante e votando regularmente. E se deslumbre com as obras faraônicas ou as de campanha.

Só mesmo tantos desinvestimentos na educação para garantirem que, em plena votação de tantas leis importantes no congresso, tanta falcatrua descoberta, as pessoas só discutem a escalação da copa e o fim da novela que teve pouca audiência.

Imagine se a audiência estivesse boa!?

Alem dos impostos, temos ainda que pagar as taxas de manutenção de luz, água, bombeiros, dentre outros. Taxas que obviamente, não são descontadas no imposto de renda. Se pagamos as taxas, especificamente, me pergunto aonde vão os impostos?

Considerando que só a partir de uma dada renda que se paga imposto. E a partir desta mesma renda, a população, insegura, paga plano de saúde, seguro de carro, escola para filho, faculdade, curso de especialização, paga segurança privada, segundo de vida e aposentadoria privada, dentre outros...

Eu pergunto: se fosse “facultativo” ao invés de “imposto”?

Pagassemos apenas o serviço que já pagamos à iniciativa privada e não contássemos mais, declaradamente, com o que não temos? Sem a revolta da expectativa justa e frusta?

Sem pagar os impostos, só os facultativos... quem ia sustentar nossas “autoridades”?

Além de nós, alguém ia ter que trabalhar!

DECLARAÇÕES DE LULA NO PAÍS DAS MARAVILHAS

declarações de Lula no país das maravilhas

Por: hermengarga Cavalcanti

A pequena Lua, de 3 anos, indignada, perguntava à avó:

“vovó, você sabia que o lobo comeu a avó da Chapeuzinho, e depois vestiu a roupa dela? Você acha isso certo vovó? Isso é muito errado! como é que pode a pessoa vestir a roupa do outro sem pedir?”

A vovó ficou tão surpresa quanto eu, quando vi, no dia seguinte, nosso presidente, Lula declarando diante das câmeras:

“O que eu acho pobre nesse país é que as pessoas esperam acontecer uma desgraça dessa magnitude para ficar tentando fazer o joguinho político pequeno. Como é que pode dizer uma coisa dessa dizer que o dinheiro do Rio não foi e foi para a Bahia? É leviandade de quem falou”*.

O leviano teria sido o Tribunal de Contas da União, que evidenciou o “direcionamento” de 37,25% da verba do Ministério da Integração Nacional destinada às situações emergenciais, como secas e enchentes, para a Bahia.

Acrescenta o detalhe que nos últimos dois anos, 64,6% do dinheiro deste ministério foi para o referido Estado. Por mais outro detalhe, o ex-ministro Geddel Vieira Lima atualmente é candidato a governador.

Mas um detalhe muito mais insignificante, são as quantias mais insignificantes ainda que foram para os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

Ao saber quem era o leviano, o presidente Lula ainda defendeu o ex-ministro e criticou o TCU pela votação, “neste momento”*, de um relatório que mostra “desequilíbrio*” na distribuição de recursos do governo federal.

O tal desequilíbrio não é nenhuma surpresa!

Há bem pouco tempo, o leviano TCU também paralisou várias obras irregulares, enquanto Lula, desde então convicto da leviandade, mandou “des-paralisar”, declarando enfático que dava mais prejuízo paralisá-las do que continuar com as irregularidades, além de causar desemprego.

Resta saber de quem seria o prejuízo e o desemprego.

Por falar em irregularidade e continuidade, também já dói declarado o PAC 2, dando continuidade ao PAC 1, que, apesar de ter usado toda a verba, de uma forma geral, nem um terço das metas passaram do plano das idéias para a realidade, e as que passaram, muitas ainda estão inconclusas.

Suspeito que nós não sabemos bem é o que significa a sigla. Talvez seja Programa de Assistência à Campanhas. E ai, tudo fica óbvio, porque, como nem todos podem se eleger, nunca será totalmente concluída, apesar do consumo completo das verbas.

Mas as declarações continuam.

Na ocasião da morte de Orlando Zapata, colocado na imprensa internacional como preso político em Cuba, os irmãos Castros declararam que “não há presos políticos na ilha”. Zapata morreu, solicitando intervenção de Lula, presidente do Brasil com história de sindicalista, inclusive com prisão no seu currículo, que inviabilizou inclusive ir ao enterro da própria mãe.

Lula, recém chegado de lá nesta ocasião oportuna, declarou: “lamentável a morte deste rapaz, mas se ele tivesse falado comigo eu tinha dito pra ele parar com isso... isso não se faz! Fazer greve de fome*”. Deve ter sido incompatibilidade com o cardápio, por certo...

Logo depois, apareceu o caso de Guillermo Fariñas , que foi preso porque batia na mulher, segundo as reportagens locais. O que deve ser a mais pura verdade, haja vista, não há presos políticos em Cuba.

Entrevistado pela Associated Press, Lula declarou respeito às decisões da Justiça cubana e do governo da ilha “de deter as pessoas em função da legislação de Cuba*”. E também criticou o uso da greve de fome como forma de “pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas*”. Finalizou brilhantemente: “Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade*”.

Só faltou citar, ao fim da declaração, um conhecido ditado “se fui pobre não me lembro”.

No entanto, na ocasião da prisão de Arruda, ex-governador do distrito federal, Lula declarou que não viu “provas suficientes para uma medida tão radical*”, lamentou o ocorrido, se confessou “abatido*” e declarou que não era “bom para o país, nem bom para a política*”.

Resta saber que país lucra com este tipo de governador...

Solicitou ainda, que evitassem a “exposição da figura do governador*”, por se tratar de uma “autoridade*”. Pediu que tudo fosse feito com muito cuidado e foi garantido que Arruda foi “preso com a dignidade que todo preso merece*”.

Considerando a dignidade dos presidiários brasileiros, em bem pouco tempo estarão todos pendurados na parede, cada um em seu prego, para aproveitar melhor o espaço. Mas Arruda, lamentavelmente, foi privado até da oportunidade ímpar de se socializar com os colegas de detenção.

Lula declarou ainda que “ninguém é sádico, ninguém está feliz*” com a prisão de Arruda. Com relação a isso, há muitas controvérsias! Inclusive registradas em fotos, publicadas em jornais!

Então, eu cito mais uma vez, como boa pernambucana, a declaração presidencial durante a inauguração da UPA de Paulista, na região metropolitana do Recife: “A UPA está tão organizada que dá vontade de ficar doente para ser atendido nela. Mas, Deus queira que ninguém precise*”.

Por ironia do destino ou justiça divina, ele precisou no mesmo dia. Entretanto, ao contrário de sua declaração, procurou um serviço privado, onde fizeram até tomografia para avaliar a dor de garganta e a hipertensão presidencial. “Coisa nunca vista antes na história deste país*”, até porque nem tinha indicação.

Mas é melhor, como se diz, senhor presidente, pecar por excesso... E também por excesso, lá vai Lula numa outra declaração infeliz, na na capital da Namíbia: “aqui é tão limpinho! Mas nem parece áfrica!*”.

Foi uma ingênua espontaneidade. Sem preconceitos... porque a ingenuidade de Lula começou com José Dirceu. A ingenuidade é tanta, que suspeito que, desde eleito, Lula esteja vivendo assim, num universo paralelo, assim como Alice no país das maravilhas, onde nada é o que realmente parece.

Onde inclusive seria possível se reeleger “em forma de Dilma”. E eu, sinceramente, queria muito escutar a declaração da versão de Lula a respeito da história da Chapeuzinho Vermelho.

* citações extraídas de fragmentos de declarações de Lula.

O CÉU QUE NOS PROTEJE

O céu que nos proteje

por: hermengarda cavalcanti - muito mais rodrigues que cavalcanti

Há dias, temos assistido no noticiário as tragédias do Rio de Janeiro. O céu está despencando. Do outro lado das Américas, nos Andes, a terra está se abrindo. Acreditam que o fim do mundo está próximo.

Mas até o fim do mundo é um processo.

A grande maravilha da nossa cidade maravilhosa é a geografia, única e linda. As montanhas, oras cobertas pela floresta, oras com encostas desnudas, encontram o mar salpicado de ilhas.

E na construção original, a geografia tinha suas soluções. A floresta filtrava a água e segurava as encostas, ou então era pedra. E a água infiltrada, escorria formando rios, córregos e cachoeiras. Desaguavam em lagoas ou direto, no mar.

Ainda na época do império, a colonização substituiu a floresta por plantação de café. Dom Pedro II reflorestou. Com o seguimento da urbanização, rios foram aterrados ou canalizados, morros foram usados para fazer aterros e grande parte do solo foi coberta de asfalto, cimento, calçada e prédios.

O lindo aterro do Flamengo por exemplo, usou mais de um morro inteiro para cobrir o mar, que chegava na Glória. Ainda tem construções de ferro, da época que o mar beijava a Glória.

Com a super-população, chega ao Rio uma grande massa de pessoas sobrevivente da seca, sub-empregadas. Quem é sub-empregado, é mal pago. Quem é mal pago não tem dinheiro para ter dignidade.

Junto com a dignidade, vai-se desde o acesso a educação e saúde até as estruturas da casa e esgotamento. Mais uma vez, lá vão-se os morros que sobraram, apinhados de estruturas frágeis, chamadas de casas, puxando água daqui, gato de energia dali.

E nestas situações, habitam a maior parte dos habitantes das grandes cidades.

As grandes favelas hoje são bairros, como a Rocinha. E nos morros onde a gente acha que não se equilibra nada, tem até prédios, com alicerces duvidosos. A bem da verdade, todos os alicerces destes cidadãos são duvidosos.

A segurança e a família avassalada pelo tráfico. O transporte coletivo é complementado pela informalidade. Só a informalidade sobe o morro. E além de informal, a educação é sazonal. Às vezes, nem chega a terminar uma estação. A saúde é suficiente apenas para mantê-los vivos. Afinal: precisa deles.

A cidade precisa do trabalho barato. Hoje, quase todo mundo ganha mal. Se uns ganham menos que outros, isso é a lei da selva, inclusive da selva de pedra. Mas mesmo ganhando pouco, compra-se.

Os ambulantes movem uma parte grandiosa da economia, vendendo barato o furto e o contrabando. Sendo sincero, os grandes centros de compra são exatamente aqueles onde se vendem produtos falsificados, imitações e importações de trabalho semi (?)-escravo.

Dessa forma, fica cada vez mais difícil exigir dos nossos administradores o que não se propõe nem pra si mesmo. Até porque, vai ter que se pagar mais por isso. Mais imposto. E como não se usa mesmo o dinheiro dos impostos, também vamos deixando de usar a dignidade.

Um belo dia, cai a chuva do mundo todo. Muito rápido. Em questões de horas, pra ser mais preciso. Por falar em preciso, a tecnologia da previsão de tempo não tinha radares o suficiente para ter precisão. Pra ser mais preciso ainda, eles pegam carona num satélite norte-americano. E quando os donos estão usando, ficamos imprecisos e desavisados.

Existem verbas destinadas para estes problemas causados pelas “forças da natureza” no Ministério do Interior. Tanto para projetos e planejamentos, como para obras emergenciais.

Na emergência das chuvas de São Paulo, 9% destas verbas foram destinadas. E o Rio recebeu menos de 1%, apesar do ano novo ter rompido junto com barrancos. Em contra-partida, quase 40% delas foram para a Bahia, porque lá, o ministro do referido ministério e atualmente candidato, tinha projetos.

E pra onde tem projetos é que o dinheiro vai. Sobretudo para os projetos eleitorais, como se vê. Na prática, estes são os projetos que mais conseguem verbas, tanto as verbas emergenciais quanto as de planejamento.

A nossa imprensa sensacionalista divulga matérias longas em horários nobres sobre as escavações, o desespero dos familiares. Enquanto as matérias são curtas sobre o desvio de verbas do ministério, a situação de Arruda e as multas de Lula por antecipação de campanha.

Daqui há 5 anos, as famílias estarão ainda pagando o preço da indignidade e do desamparo social, mas a imprensa já estará se alimentando de novas tragédias, financiadas pela industria da miséria, que por sua vez, financiaram novos candidatos.

A indústria da seca, da inundação, da miséria é a mais promissora do país. Alimenta uma fonte inesgotável de projetos inconclusos e irregulares, que são, antes de tudo, financiamento de candidatos com novos projetos de fachadas, que tanto alegram o coração dos brasileiros.

Assim como a copa e as olimpíadas, que serão grandes motivos, de caráter internacional, para arrebanhar votos e verbas para reconstrução do Rio, nas mesmas condições de antes. Pra que mudar?

E assim nos manteremos até que todas as cidades sejam um aterro de lixão: simbólico ou não. Ou então, o céu desabe de vez, a terra se abra e enfim, o mundo se acabe.

MULHER MARAVILHA

MULHER MARAVILHA

por: herme

Eu nasci numa situação familiar muito confortável: muitos tios e poucos sobrinhos. Mas a situação geográfica não ajudava, porque eu morava longe de quase todos.

Então, tio Ruy dizia a tia Edna que eu ia gostar mais dele, que morava mais perto. Ledo engano, ninguém barra tia Edna! A própria “concorrência” reconhece tanto que indica.

Quando eu vim pra Recife, ela foi morar na Bahia. E lá ficou até os meus 27 anos. Durante todo este tempo, nasceram vários sobrinhos. Ainda morando longe, ela era a nossa tia querida, independente do credo.

Fisicamente distante, ela estava sempre perto. Conhece cada um, as preferências, os aniversários, as mal-criações, conta as traquinagens. E de tanto conhecer, ela comprava presente barato, e eram os preferidos.

Ela me deu, quando eu era muito pequena, um boneco de feira, maior que eu, que chamei de Fubi. Ganhei muitos brinquedos depois. Mas o que eu lembro até hoje era Fubi.

Lembro também dos peixinhos de chocolate com papel colorido. Ela também me dava umas sandálias de dedo pra eu descansar meus pés das botas ortopédicas. E me mostrava os próprios pés, para eu não ficar traumatizada com os meus.

Mas cada sobrinho tem várias histórias dela pra contar.

O colo dela sempre foi parte do parque de diversões de nosso imaginário infantil. Com certeza, deve ter alguma coisa astrológica naquele colo dela, porque a gente sente uma paz tão grande que parece que o universo está em paz... toda a via lacte está ali, em paz, naquele aconchego.

Todo mundo quer. De mim, a Gabriel, o sobrinho neto estreante. E ela me manda o recado provocativo: “tem gente no seu colo”. Eu faço beicinho, sou a primeira a chegar, tenho meus direitos. Mas é até pecado poupar os outros daquele colo querido!

Tudo nela é aconchegante. É só avisar e tem toalha limpa, a cama cheirosa e a mesa farta. Mesa farta, inclusive, é quase uma parte do corpo dela. Tudo ela prepara com cuidado, como se ela fizesse o sol nascer todo dia.

No ar se cria uma alegria. É a banana assada, o bolo diet, o cuscuz com leite de côco. Ai, aquele vatapá com camarão seco...

A influencia ambiental dela abrange a mãe, os cunhados, tios e primos, enteados, vizinhos, amigos dos sobrinhos, colegas de trabalho e até os funcionários. Todo mundo entende que tia Edna é uma fonte de amor.

Ela consegue ser leve e segura, firme. Sempre consegue olhar todos os lados e avaliar, sem preconceitos, as razões de cada um. Tem um olhar para o mundo cheio de amor e de esperança.

Ela consegue sempre estar presente, mesmo na ausência, e mesmo a distância. Aliás, esta é a especialidade dela: está perto no longe.

Nelson Rodrigues dizia “toda unanimidade é burra”. Mas é porque, apesar dele ser Rodrigues, ele não teve tia Edna na família. Porque, além dos sobrinhos e netos, os irmãos são todos apaixonados por ela.

Ela é um verdadeiro acontecimento em forma de pessoa. Parece até mentira, mas ela existe. E como ela é assim, abundante, é preciso avisar pelas galáxias: hoje o planeta terra comemora 60 anos da presença da nossa mulher maravilha.

As Crianças são de Plástico

As crianças são de plástico

por: hermengarda cavalcanti

Estava indo caminhar no parque, e no caminho, vi uma cena muito curiosa. Uma criança, com uns 4 ou 5 anos, de capacete, caneleiras, cotoveleiras e tênis, sobre uma bicicleta com duas rodinhas de apoio.

Ia com o pai do lado, que rebocou a bike quando a calçada ficou mais irregular, a despeito de toda a proteção. Caso não o fizesse, seria considerado um pai desnaturado, na atual conjuntura dos fatos.

Eu me lembro de minha primeira bicicleta. Era vermelha, e tinha rodinhas de apoio também, com prazos pra tirar. Prazos este que eu queria antecipar para não fazer feio no meio da vizinhança, porque este método de aprender a andar de bicicleta com duas rodinhas, era bastante conservador.

Tinha outro método, menos conservador, também conhecido como “ladeira abaixo”, em geral, supervisionado (ou proporcionado) pelo o pai ou representante familiar masculino – já que mãe não sabe fazer isso.

Mas ainda havia outro método ainda menos conservador, que era o usado pelo meu pai e contemporâneos. Seria o “ladeira abaixo”, com bicicleta de adulto, geralmente conseguida sem o consentimento do dono da bicicleta e escondido da mãe do aprendiz.

Porque nesta época, as bicicletas eram como as casas, passavam de avô pra neto. Eram verdadeiras relíquias. Rodinha de apoio não existia em bicicleta de adulto. E quando tinha algum proprietário de bicicleta muito legal, ele emprestava pro amigo, escondido do dono oficial – o pai ou o tio.

Meu pai conta, entre risadas, um destes episódios onde ele pegou a bicicleta de algum adulto, e além dela não ter freios, a ladeira tinha muita pedra. O que lhe custou um “pedaço de pele”, daqueles retalhos que obriga a gente a andar curvado. Mas ele tinha que andar todo espigado pra mãe dele nem perceber que ele tinha de machucado.

De vez em quando, alguém se machucava. Geralmente, não era nada grave e nem deixava traumas ou fobias. Mas hoje, como não sabem nem cair, as crianças se machucam rotineiramente. Brincar é um perigo, ainda mais nos parquinhos.

É uma surpresa ver uma vaca. Até de galinha elas têm medo. De areia também. A menina de seis anos reclamou que o mar é muito salgado. Hoje em dia, até as comidas são embaladas para sujar menos. Porque quando suam, querem logo limpá-las.

E neste contexto, onde ser criança é perigoso e sujo, a primeira coisa que se machuca é a alma.

Assim, as crianças com dois anos, não sabem ler, mas já sabem manipular um mouse, ligar um DVD e usar um controle remoto. Sentadas em suas poltronas confortáveis para não machucar seus pequenos glúteos cobertos ou não de grandes coxins adiposos, brincam e se exercitam numa realidade virtual.

Basta olhar a evolução de hipertrofia muscular dos nossos super-heróis que chegaram aos dias de hoje: o super-homem, o Batman... até os macacos estão com músculos incompatíveis com suas anatomias – todos hipertrofiados.

A realidade virtual se aproxima da nossa, é só com o que não devia ser mostrado pra uma criança: jogos violentos, mega- violentos, na verdade. Tem um que a pontuação é pelos crimes cometidos, desde espancamento a assassinato, passando pelos furtos. E outro que se chama “crime organizado". Tem até a pontuação no Orkut.

O humano, cada dia mais fragilizado, cria um avatar cada dia mais poderoso. Enquanto vivem aventuras aladas, super-poderes e valores adaptáveis, temem pisar nas calçadas irregulares da vida e sentimentos inesperados, que fazem a alma descer ao inferno e subir ao céu, mesmo sem ter asas.