quinta-feira, setembro 28, 2006

PRISIONEIRA DA FUMAÇA - 26/12/2005
Por: Hermengarda Batista


Acordo de manhã triste: mas sem saber porquê. Isso todo mundo aceita. E ainda me falam de alguém que vive triste. É assim mesmo. A morte e os sofrimentos são inevitáveis.

Mas se estou feliz de manhã: aí tem que ter algum motivo.

Ninguém pode ser feliz à toa. Crônica ou agudamente que seja: tem explicação. Ou então, você é maníaco, ingênuo, iludido... O importante é que a sua felicidade um dia vai acabar.

Vou subindo o Costão olhando a pedra. Prendo o olhar só no caminho. Olhar a paisagem me assusta: ver que estou no alto! Mais um lance, e me pergunto: o que eu vim fazer aqui, com tanta coisa mais fácil. À medida que eu subo, fico pensando como vou descer quando chegar... Lá, no alto, bem lindo, cansada, eu posso pensar: agora como eu vou descer...

Fico com medo destas conquistas, da sensação de liberdade, do que faria sem o julgo, o crivo das certezas impostas, herdadas, aceitas.

O que eu faria sem os referenciais? Tenho medo do que vai na minha essência. Do que seria liberdade. Do que seria experimentar o novo, o que me causa medo, o que seria perder o controle e seguir os passos, passo a passo, seguir o rumo, em busca do prazer de subir, de chegar, da beleza da imensidão do espaço, que não é sideral mas é lindo.

Quando eu vejo que meu pensamento não é tão único: tomo um susto. Parece que todo mundo pensa algum tipo de maluquice desta. E, a seu modo, todo mundo age assim. Às vezes, a gente se mantém embaixo, sob mil explicações, mil justificativas: que elas antecedam e previnam a alegria.

Assim entendendo, cada medo que passo diante dos passos que conquisto, cada conquista retrocedo um pouco. E daqui há pouco, chego ao antes de ter começado. A exposição de tentar ser feliz dá tanto medo...

O que faço com os rótulos e os modelos de sempre? Parece que veio no meu código genético, inscrito nele, o mito da caverna de Platão. Vou criando mecanismos, de todas as eficiências, para me manter na caverna.
Se eu ousar sair da caverna e enfrentar meu medo, será que não vou virar fumaça?

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial