quinta-feira, setembro 28, 2006

EU VOU ABRIR UM SALÃO - 31/12/2005

Por "solicitação materna", fui fazer o curso de acupuntura estética.

O "workshop" foi realmente muito bom: abordou eletroacupuntura, fitoterapia, as síndromes de acupuntura e as queixas estéticas na visão da medicina chinesa. E para minha surpresa, realmente funciona. Mas era supostamente exigido que se tivesse experiência em acupuntura.

Desconheço os "critérios de seleção" usados, mas o fato é que éramos 6 médicos, 1 fisioterapeuta e 6 esteticistas. Foi indiscutivelmente hilário: eu, em meio às esteticistas, que, para expor seus conhecimentos, discutiam a toda hora os equipamentos de estética, cremes e explicavam, nas suas idéias e com seus vocabulários, nem sempre harmônicos com a gramática e ortografia, como por exemplo, "o pós operatório da cirurgia prástica". Explicavam tudo com muita propriedade, inclusive à Edilma, que é dermatologista.

Eram todas muito mais paramentadas que nós, médicos. Compraram todos os equipamentos, agulhas, cremes. Tudo o que foi sugerido, além, óbvio, do que foi recomendado.

Na hora da prática, Edilma, com o bom humor de sempre, aplicando em mim as agulhas, começou a brincar com Juli: "vou abrir um salão... este negócio de consultório dá mais dor de cabeça que dinheiro... o negócio agora é salão". E Juli arremata comentando que um amigo dela estava namorando uma mulher, dona de um salão, e que ganhava muito mais que a gente (provavelmente que "a gente junto").

Hoje, fui almoçar com Soraya. Voltando pela rua de minha casa, nesta tarde dourada, da cidade do Recife, venho olhando o mundo. De repente, vejo algumas pessoas de bata (jaleco). Eram daqueles modelos longos, na altura do joelho, acintado, com manga compridas – bem formal. Observo bem: são três mulheres, duas na calçada, uma mais à porta. Coisa estranha...

Era um salão.

Evidentemente, além de trabalharem formalmente com roupas dos profissionais de saúde, alegam que dominam as técnicas de esterilização. Não me estranha que se achem habilitadas para, depois de um workshop, saírem agulhando caras e corpos, sem mínima noção de anatomia, vascularização, nervos... conceitos completamente démodé.

No entanto, se as clínicas de estética vivem cheias – apesar da crise e da falta de dinheiro – os salões vivem mais ainda, desde os mais vagabundos e sobretudo os mais chiques. A fidelidade e a satisfação das pessoas com seus cabeleireiros é realmente muito mais freqüente que com os seus médicos.

Considerando que já fiz 30 anos, e a minha ideologia já se deparou com as contas a pagar, eu quero frisar bem: isso não é um protesto, fadado ao fracasso e falta de eco. Isso é uma tentativa de modernização de conceitos: quero anunciar que eu vou abrir um salão.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial