quinta-feira, setembro 28, 2006

DIÁRIO DE DONA DE CASA - parte 4 – o chuveiro

Texto com dedicatória especial para meu amigo Jam e minha tia Edna.

Estava tomando banho de manhã cedo, quando o chuveiro elétrico pipocou.

Danou-se: e agora?

Daqui que meu primo viesse consertar, eu já teria morrido de desgosto de tanto tomar banho frio.

Lembrava de minha avó dizendo: "precisa arrumar um homem para consertar isso", e minha tia Edna respondendo revoltada: "que homem, mamãe! Eu só preciso de homem para uma coisa. Concertar chuveiro eu sei!"

Fui trabalhar, lembrando da minha tia e da água fria nas minhas costas.

Pensando: sou uma mulher moderna, moro só, e ando declarando aos 4 ventos que sei trocar pneu de carro. No entanto, ao chegar no trabalho, solicitei os préstimos de Sandro, que me declarou claramente não ser o "tipo de homem que sabe trocar chuveiro".

Saí como sempre, fazendo uma "revisão fonoaudiográfica" (em carioquês: perguntando a geral) sobre como trocar chuveiros. Curiosamente, a informação mais detalhada, com preço e tudo o mais, veio de uma mulher.

Não satisfeita, liguei para meu amigo Jam. Para quem não o conhece, Jam é meu amigo músico que atualmente escala a fama sobre os degraus do F.U.R.T.O. Um cara altamente divertido, leve, com um sorriso praticamente baiano, que não bebe e não fuma, e é altamente prestativo. Ele montou a bicicleta de Maria - de onde eu brilhantemente conclui que ele saberia trocar chuveiro.

Ele responde: "Nêga, eu não sei não mas eu vou!".

Encontro Jam no lugar combinado, com aquele sorriso de sempre. Fomos conversando amenidades pelo trajeto, sobre a banda. Quando ele entra lá em casa, sóbrio, como sempre, diz: "que apartamento grande... organizado... luxuoso".

A partir de então, percebe-se que se trata de uma pessoa com a percepção da realidade deveras avariada, com um potencial incrível, segundo as estastísticas, para ser grande amigo meu por no mínimo 15 anos. O apartamento tem menos de 50m² e menos móveis que um monasterio franciscano.

Segundo passo: encantou-se com meu violão. Inevitável, é bem verdade. Meu violão é realmente uma delícia. O problema é que ele concluiu que íamos compor uma música: pegava o violão, iniciava o tal do "jeep" (esboço da melodia) adaptando sons vocais ao ritmo e contando com o talento que eu não tenho. Até um dado momento em que ele perdeu as esperanças e resolveu montar o chuveiro.

Leu o manual – que tinha 3 linhas. Ller manual é tarefa de homens. E fomos trocar o chuveiro. Então, estudamos a complexidade dos 3 fios. Desliga a luz, fecha o registro, sobe na cadeira lindinha, cromadinha (ai meu Deus, dentro de água). Jam está como medo de levar choque e adquire a tarefa de segurar a cadeira.

Enfim: descubro que o parafuso tem menos de 0,5cm e que, não obstante, caía como se, com a gravidade, pesasse 1 tonelada. Retiro o chuveiro. Desço, monto o chuveiro novo: corto fio, como o alicate do porteiro, desencapo, etc... toca o celular de Jam.

Então estou eu, me equilibrando em cima da cadeira pensa, com a cabeça encostada no box, tentando encaixar um parafuso de menos 0,5cm, no escuro, com saudade do meu pai (que,usando seu próprio vocabulario, trocaria com os pés nas costas). Escuto Jam no celular: "vamos marcar para gente fazer alguma coisa junto... tomar um suco, tomar uma limonada, tomar um banho..."

A partir de então, eu tinha que executar meu malabarismo morrendo de rir. Devo acrescentar que o parafuso caiu inúmeras vezes, e a cada vez, tínhamos que ligar tudo paraprocurar. Na hora que Jam achou que eu derrubava muito o parafuso, teve a oportunidade de constatar que tinha mais talento do que eu (em derrubá-lo).

Enfim, termina a operação: liga a água. Liga a energia. Água quente novamente! Voltamos sorridentes para o violão. E conseguimos, depois de vários Jeeps, fazer um esboço de música, que, no pernambuquês claro, seu eu me lembrar hoje, "eu xoxe".

Morais da história:

1- Estes homens modernos não são nada práticos, mas trocar chuveiro realmente é mais fácil que cozinhar, e mais ainda que fazer música.

2- Já posso ter saudade de papai por outra coisa.

3- Quem tem amigos, no mínimo, se diverte muito mais e o apoio moral é massa!beijos

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