quarta-feira, setembro 27, 2006

O Tempo

por: Alexandre Magalhães

Houve um tempo nebuloso, um tempo de grandes perdas e desencontros, um tempo de carência física e emocional, houve um tempo em que a vida havia se tornadoum fardo pesado demais. Esse peso somente era amenizado com o convívio dos meus filhos, os finais de semana logo se tornaram ilhas habitadas só por nós três.

Foi nesse tempo de distâncias que nos aproximamos mais, promovíamosencontros relâmpagos e muitas vezes matamos as saudades abraçados entre asgrades do colégio, e foi no contexto desse tempo que aconteceu um fato que me marcaria para sempre.

A proximidade do Natal me trazia sentimentos conflitantes, me angustiavaa impossibilidade de presenteá-los, enquanto a chegada de um novo ano traziaem si novas possibilidades que me enchiam de esperanças. Havíamos marcado um encontro para aquela manhã.

Logo na chegada vi meus filhos disparando pela porta feito foguetes, eles corriam
em minha direção com os braços abertos, fazendo curvas no ar como pequenos aviões.
Quando me alcançaram senti que o tempo começava a parar. Fui inundado por um mar
de paz e tranqüilidade, ficamos assim, abraçados em silêncio por um tempo que se
recusava a passar.

Logo começamos a conversar amenidades até que percebi seus olhares se cruzando e senti que o ambiente começava a tomar um ar solene. Percebi que algo forado comum iria acontecer. Eles me olharam e disseram assim: "Pai, você sabe que a gente não tem dinheiro pra te dar um presente bonitinho, mas a gente pegou no terreno da vó uma coisa que você gosta muito.

Nesse momento eles se abaixaram e pegaram uma caixa que estava escondida atrás do portão, levantarama caixa com bastante dificuldade, estenderam os braços em minha direção e me desejaram um Feliz Natal. Curioso, abri meu presente e emocionado, constatei que eram pedras, uma caixa cheia de pedras.
Este pequeno episodio, mudaria a minha essência e moldaria o homem que souhoje, um homem atento ao Deus que mora no centro das pequenas coisas.

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