VII diário da dona de casa: Peixe na Telha
por: Danielle Rodrigues
Feriado da semana santa, resolvemos passar na ilha de Itacuruça: mais um evento Fátima Beatriz coutry club...
É um lugar lindo e pouco habitado, parte da ilha é praia e a outra falésia. Boa parte dela ainda não tem energia elétrica, incluindo a casa em que ficaríamos.
Vai de barco para a ilha. E chegamos à linda luz da lua cheia pelas águas plácidas do mar sereno.
O cardápio da quinta à noite foi o clássico de Amanda: cachorro quente. E a trilha sonora de toda a viagem: "Gente, alguém viu a Bela?". Bela é uma cachorrinha miniatura preta que, à noite, usava em vão uma coleira em neon para não perder-se.
Estávamos lá: eu, Amanda, Paulinha, Fatinha, Bela e o sultão Alexandre Magalhães.
Sexta feira da paixão, Paulinha instituiu que faríamos um peixe fresco, recém pescado. E com a chegada do nosso peixe, começaram as elocubrações: como se temperaria o peixe. Enquanto o meu olhar escorre pelas esquinas da casa, e queda-se num amontoado de telhas que sobrara da construção das casas: "vamos fazer um peixe na telha?"
Para desespero do único ser habilitadamente cozinhante, a proposta foi calorosamente abraçada. Lavamos a telha, deitamo-la o peixe, equilibrando cuidadosamente o conjunto sobre a frágil grade da churrasqueira.
Este é um tópico a parte: a churrasqueira. A princípio, custou 70 reais. Era uma bandeija com carvão, equilibrada sobre hastes em quatro pontos, com uma grelha delicada. Vale salientar que toda a churrasqueira pesava menos que a telha.
Com toda a nossa experiência com assuntos de cozinha, nossa estréia com o "peixe na telha" foi realmente um filme de McGiver. O peixe deitado sobre a telha, nú como veio ao mundo, equilibrava-se na grelha. Até o momento que concluímos que necessitava embrulhá-lo. E Fatinha sugeriu a folha de bananeira, que o único ser discordante foi democraticamente eleito para buscá-la.
Peixe embrulhado.
E a demora...
Amanda deu a idéia de colocar outra telha. Prontamente aceita. Lavamos mais uma telha, e colocamos sobre o peixe. Estava lá o evento: O peixe, enrolado na folha de bananeira, envolvido no túnel de telhas sobre a tênue churrasqueira. E as quatro supostas cozinheiras em volta e famintas.
O único ser cozinhante, e discordante, como protesto mudo, resolveu resignado fazer farofa e arroz na cozinha. Foi quando surgiu o problema: como vamos saber se ele cozinhou?
Pelos olhos? Mas agora o peixe não está mais fresco...
Numa operação conjunta, eu, Amanda e Paulinha resolvemos fazer a emboscada. Remover a telha, desembrulhar o peixe, e verificar o estado da nossa vítima. Cada uma em "pontos extremos" da churrasqueira, eu para tirar a telha, quando começamos a temer pela vulnerabilidade do conjunto.
Destelhado, começamos a despí-lo. Segura daqui, segura de lá: heis que as hastes do lado de lá (justamente do degrau) desarmaram, formando uma rampa que conduziu o nosso peixe direto ao chão.
Chão encimentado, porque Deus protege os criativos...
A fome e o peixe degladiaram por 3 segundos e a fome venceu. Retimos a face de cima, já cozida e livre do chão, a face "cainte" e o rabo (ainda cru) foram devidamente re-embrulhado e re-telhado, para matar, primeiramente, as bactérias e posteriormente a nossa fome.
E no dia seguinte, foi feijoada, feita no reino absolutista de Alex, sem ninguém meter a colher, literalmente falando...
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial