quarta-feira, setembro 27, 2006

VII diário da dona de casa: Peixe na Telha

por: Danielle Rodrigues

Feriado da semana santa, resolvemos passar na ilha de Itacuruça: mais um evento Fátima Beatriz coutry club...

É um lugar lindo e pouco habitado, parte da ilha é praia e a outra falésia. Boa parte dela ainda não tem energia elétrica, incluindo a casa em que ficaríamos.

Vai de barco para a ilha. E chegamos à linda luz da lua cheia pelas águas plácidas do mar sereno.

O cardápio da quinta à noite foi o clássico de Amanda: cachorro quente. E a trilha sonora de toda a viagem: "Gente, alguém viu a Bela?". Bela é uma cachorrinha miniatura preta que, à noite, usava em vão uma coleira em neon para não perder-se.

Estávamos lá: eu, Amanda, Paulinha, Fatinha, Bela e o sultão Alexandre Magalhães.
Sexta feira da paixão, Paulinha instituiu que faríamos um peixe fresco, recém pescado. E com a chegada do nosso peixe, começaram as elocubrações: como se temperaria o peixe. Enquanto o meu olhar escorre pelas esquinas da casa, e queda-se num amontoado de telhas que sobrara da construção das casas: "vamos fazer um peixe na telha?"

Para desespero do único ser habilitadamente cozinhante, a proposta foi calorosamente abraçada. Lavamos a telha, deitamo-la o peixe, equilibrando cuidadosamente o conjunto sobre a frágil grade da churrasqueira.

Este é um tópico a parte: a churrasqueira. A princípio, custou 70 reais. Era uma bandeija com carvão, equilibrada sobre hastes em quatro pontos, com uma grelha delicada. Vale salientar que toda a churrasqueira pesava menos que a telha.

Com toda a nossa experiência com assuntos de cozinha, nossa estréia com o "peixe na telha" foi realmente um filme de McGiver. O peixe deitado sobre a telha, nú como veio ao mundo, equilibrava-se na grelha. Até o momento que concluímos que necessitava embrulhá-lo. E Fatinha sugeriu a folha de bananeira, que o único ser discordante foi democraticamente eleito para buscá-la.

Peixe embrulhado.

E a demora...

Amanda deu a idéia de colocar outra telha. Prontamente aceita. Lavamos mais uma telha, e colocamos sobre o peixe. Estava lá o evento: O peixe, enrolado na folha de bananeira, envolvido no túnel de telhas sobre a tênue churrasqueira. E as quatro supostas cozinheiras em volta e famintas.

O único ser cozinhante, e discordante, como protesto mudo, resolveu resignado fazer farofa e arroz na cozinha. Foi quando surgiu o problema: como vamos saber se ele cozinhou?

Pelos olhos? Mas agora o peixe não está mais fresco...

Numa operação conjunta, eu, Amanda e Paulinha resolvemos fazer a emboscada. Remover a telha, desembrulhar o peixe, e verificar o estado da nossa vítima. Cada uma em "pontos extremos" da churrasqueira, eu para tirar a telha, quando começamos a temer pela vulnerabilidade do conjunto.

Destelhado, começamos a despí-lo. Segura daqui, segura de lá: heis que as hastes do lado de lá (justamente do degrau) desarmaram, formando uma rampa que conduziu o nosso peixe direto ao chão.

Chão encimentado, porque Deus protege os criativos...

A fome e o peixe degladiaram por 3 segundos e a fome venceu. Retimos a face de cima, já cozida e livre do chão, a face "cainte" e o rabo (ainda cru) foram devidamente re-embrulhado e re-telhado, para matar, primeiramente, as bactérias e posteriormente a nossa fome.

E no dia seguinte, foi feijoada, feita no reino absolutista de Alex, sem ninguém meter a colher, literalmente falando...

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial